Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 19/05/2011

Dance Of Days
Brazilian/Emo/Hardcore
http://www.myspace.com/danceofdays

Por: Cleber Facchi

 

Antes da avalanche de bandas inspiradas pelo emocore tomarem de assalto as rádios, canais de TV e a internet brasileira na segunda metade dos anos 2000, pregando seus amores sofridos e existencialismos banais, a paulistana Dance of Days, pioneira do gênero no Brasil vinha por uma via oposta. Embora a dor e o sofrimento ainda fossem o mote do quinteto formado em 1996, a temática apontada pela banda se desliga completamente dos clichês que tomariam o país futuramente, tendo em Coração de Tróia (2002) o melhor exemplar dessa soma de ritmos e versos, e um belo trabalho do que de fato deve ser entendido como a música “emo”.

Depois do bem recebido trabalho de estreia, A História Não Tem Fim (2001), álbum que automaticamente posicionava o grupo como um dos grandes representantes do hardcore melódico naquele momento, a expectativa criada em cima de um segundo disco seria mais do que óbvia. Entretanto, quem desacreditava as habilidades do quinteto paulistano – encabeçado por Nenê Altro (voz) e composta por Tyello (guitarra), Marcelo Verardi (guitarra), Fausto Oi (baixo), Samuel Rato (bateria) – ou mantinha expectativas críticas em relação a um novo álbum, desconhecia a beleza do que estava por vir.

Com o segundo trabalho de estúdio, a banda não somente despejava mais uma série de acordes raivosos, trazendo o melhor das reverberações típicas do estilo, como fazia de suas letras (todas frutos do puro sofrimento de Altro), uma porta de entrada para um universo de dor, existencialismos nada banais e argumentos sinceros. Em 15 composições o grupo delimitava com propriedade aquilo que teria seguimento em seus posteriores discos, além de cravar de vez seu nome na história do rock nacional.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=rJlQoZMzN7M]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=7qfxIXGctpo]

Mais do que um conjunto de gritarias difíceis de serem decodificadas, as faixas expostas no álbum trazem Altro no máximo de sua habilidade como compositor. Entre sentimentalismos dolorosos, o vocalista entrelaça pequenos elementos da mitologia grega, fazendo com que seus versos não sejam apenas o reduto de lamentos, mas metáforas detalhistas e carregadas de um significado universal. Brincando com o mito do Labirinto do Minotauro, por exemplo, o compositor mescla elementos de um passado não distante com trechos da passagem ficcional de creta, naquilo que se transforma na raivosa O Rastro de Teseu.

O mérito do trabalho, entretanto, não está apenas no jogo de palavras desenvolvido pelo vocalista, mas na eficácia dos instrumentistas em darem vida à epopeia mítica que se desenvolve ao longo do álbum. A versatilidade com que Tyello e Verardi expõem seus instrumentos, indo da calmaria ao desespero em questão de segundos é um dos pontos de solidez do álbum. Tanto em faixas mais curtas (Tochas para Joana) como em composições alongadas (Horizontes de Outono), a dupla despeja rifes seminais, que em composição ao baixo e a bateria representam toda a excepcionalidade da banda.

A consistência de Coração de Tróia o transformaria no trabalho mais memorável do Dance Of Days, sendo sempre compreendido como o melhor disco do quinteto. Com a expansão do famigerado movimento emo nos anos seguintes, a popularidade da banda cresceria de forma colossal, apresentando a sonoridade do grupo a um bom número de indivíduos antes sequer ouviram menções ao seu trabalho.

Coração de Tróia (2002)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Noção de Nada, Sugar Kane e Ludovic
Ouça: Horizontes de Outono

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.