Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 27/05/2011

Romulo Fróes
Brazilian/Samba/Indie
http://www.myspace.com/romulofroes

Por: Cleber Facchi

Audacioso, assim é No chão, sem o chão (2009) obra máxima do paulistano Romulo Fróes. Um disco duplo de pura excepcionalidade e que transita a todo momento entre as vias do samba e do rock, sem necessariamente se fixar a um único direcionamento. Contabilizando 33 músicas, o álbum constrói um panorama urbano, onde personagens, vagas declarações e elementos do cotidiano são embalados por uma melancolia sintomática, tendo em seu vocalista, também personagem, um guia que transita por entre os versos, carregando o ouvinte cada vez mais para dentro do refúgio desenvolvido com o álbum.

Pai de dois elaborados álbuns de estúdio – Calado (2004) e Cão (2006) – Fróes foi aos poucos construindo aquilo que lançaria em 2009. Enquanto o trabalho de estreia o puxava para dentro da nova geracão de sambistas, com o disco seguinte o uso aplicado de guitarras e uma temática levemente obscura acabava por separar o artista, isolando-o em uma espaço próprio, além de delimitar um público variado de seguidores, similar ao de seu próprio som. Após dois anos de faixas acumuladas e conteúdo suficiente para dois discos novos, o músico partiu para o lançamento de seu terceiro álbum, um trabalho ao mesmo tempo complexo e surpreendente.

São quase duas horas de composições irretocáveis, dispersas sem uma ordem bem definida, apenas à mercê de seus apreciadores. Por questões “mercadológicas”, o álbum acabou dividido em duas partes, ou sessões, sendo a primeira denominada Cala Boca Já Morreu e a segunda Saiba Ficar Quieto. Embora seja uma obra única é possível identificar algumas visíveis pendências em ambas as partes do trabalho, o que torna ainda mais interessante apreciar o álbum de forma fracionada.

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Na primeira metade do registro, Fróes revela ao público sua face mais “roqueira”, fazendo da guitarra o instrumento guia para grande parte das composições, destilando solos ruidosos, carregados de distorção ásperas. Desse mesmo grupo surgem também as composições mais acessíveis do álbum, sempre temperadas por uma carga extra de melancolia e uma ambientação cinza. Assim, ganham vida faixas como A Anti-Musa, Anjo (talvez a faixa mais pesada de todo o álbum), a triste Pierrô Lunático ou ainda a pop De Adão para Eva, um delicioso dueto com Mariana Aydar.

Já em sua outra metade, o álbum apresenta um músico muito mais voltado à “MPB”, se afundando em sambas tristes, marchinhas obscuras e sonorizações muito mais brandas, sempre pontuadas pela suavidade de acordes nada sujos. Basta se deparar com Manda Chamar, trazendo um clima de samba antigo, com seus versos ecoados em coro, ou mesmo a quase carnavalesca O que todo mundo quer – Ninguém liga, uma das canções mais animadas do álbum, embora sua letra ainda apresente a sobriedade triste que movimenta o disco.

Para a construção de sua nada singela obra, Romulo Fróes trouxe um variado número de relevantes nomes do cenário nacional, como o guitarrista Lanny Gordin, o pianista André Mehmari, Bocato assumindo os trompetes, integrantes da Velha Guarda da Nenê de Vila Matilde, além da tríade  Guilherme Held, Fabio Sá e Curumin, responsáveis por conduzir grande parte das guitarras, baixo e bateria do álbum. O resultado fica esclarecido em sua primorosa obra, um dos registros mais grandiosos (em seus múltiplos sentidos) e maduros da recente história da música brasileira.

No chão, Sem o Chão (2009)

Nota: 9.5
Para quem gosta de: Lucas Santtana, Cidadão Instigado e Bruno Morais
Ouça: A Anti-Musa e Manda Chamar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.