Disco: “Aos Abutres”, Lestics

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2011

Lestics
Brazilian/Folk/Alternative
http://www.lestics.com.br/

Por: Cleber Facchi

 

“Mordida de urso dói/ fumar dinamite dói/ brincar bem bonzinho não dói/ mas também não tem graça” assim canta Olavo Rocha em Dorme Que Passa terceira faixa do quarto e primoroso disco da paulistana Lestics e um dos trabalhos mais adultos lançados nos últimos anos. O trabalho iniciado pelos músicos Umberto Sarpieri e Olavo Rocha em meados dos anos 2000 chega ao seu quarto volume unindo com destreza folk, country, rock alternativo e até música pop, em um exercício de puro cuidado e sons precisos.

Bem mais acessível e menos melancólico que o trabalhos anteriores – os demais lançamentos da banda são 9 Sonhos e Les Tics em 2007 e Hoje em 2009 – Aos Abutres (2010) conta com uma série de canções com forte tendência radiofônica, afastando levemente a sonoridade ponderada dos primeiros e sombrios registros, em prol de um som que faça o projeto soar grandioso. Não mais um duo e contando com a presença de Lirinha (guitarra e violão), Marcelo Patu (baixo e violão) e Xuxa (bateria e percussão) em sua formação, o novo Lestics pouco se assemelha ao ponderado aspecto de sua estreia.

Enquanto nos dois primeiros trabalhos a beleza representada nas canções da banda vinha de sua simplicidade, produzindo um tipo de som que beirava o lo-fi, ao adentrarem o quarto disco é perceptível um amplo amadurecimento nos rumos do agora quinteto. Embora a maturidade fosse um elemento sempre recorrente enquanto dupla (talvez por conta da densidade proposta nas letras), com a chegada dos novos integrantes, o som dos paulistanos se adorna intensamente de novos ritmos e texturas, apresentando uma banda diferente, porém ainda ligada às suas origens.

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Embora rumem para um tipo de som mais amplo, as letras ainda funcionam como o elemento mais marcante do quinteto paulistano. Sempre trabalhadas de maneira sincera e explorando temáticas variadas, as letras desenvolvidas pelo Lestics seguem abordando versos existencialistas como em Dois de Paus, nostálgicos em Tudo é memória ou mesmo pequenas exaltações amorosas como na faixa de abertura Travessia. A banda é uma das poucas que conseguem aplicar palavras como catapultado, aneurisma, câncer de pulmão ou cordão umbilical sem que com isso soem estranhos ou pretensiosos.

Entretanto, a trama de versos de nada funcionaria se não fosse pelo apurado arranjo instrumental que percorre todo o álbum. Mesmo com a inclusão de três novos músicos, Serpieri se mantém como o grande instrumentista em todas as faixas, assumindo boa parte das guitarras, violões, gaita, teclados, percussão, além do backing vocal.

Com as gravações fracionadas entre o Nimbus Studios em São Paulo e alguns trechos de captações caseiras, Aos Abutres segue reproduzindo a mesma limpidez sonora alcançada no anterior álbum da banda, Hoje.  A gama de instrumentos que interliga os versos das canções de maneira coerente acaba gerando um dos discos mais agradáveis e melhor estruturados de 2010. Longe da melancolia, o Lestics segue na produção de álbuns tão interessantes quanto os que trouxeram a eles certa notoriedade dentro do cenário underground.

Aos Abutres (2010)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Vanguart, Marcelo Camelo e Thiago Pethit
Ouça: Parto Normal

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.