Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2011

Cidadão Instigado
Brazilian/Psychedelic/Experimental
http://www.myspace.com/cidadaoinstigado
http://www.cidadaoinstigado.com/

Por: Cleber Facchi

Não restavam dúvidas de que o Cidadão Instigado pudesse produzir um trabalho tão excêntrico e criativo quando o fundamental E O Método Túfo de Experiências (2005). Entretanto, o que ninguém imaginava era que o grupo cearense pudesse construir algo ainda mais alucinado do que o proposto em seu segundo trabalho de estúdio. Menos experimental e realçando as frequências ligadas à psicodelia e ao lado brega do grupo, Uhuuu! (2009) expõe a banda de Fortaleza dentro de um universo de romantismos, delírios e fórmulas nada convencionais de se fazer música.

A temática alcançada por Fernando Catatau e seus parceiros nos trabalhos anteriores – O Ciclo da Dê.Cadência (2002) e O Método Túfo… (2005) – parece dentro deste terceiro disco cuidadosamente organizada, ressaltando o que havia de melhor nas composições do grupo. A psicodelia ecoando os anos de glória do Pink Floyd e diversas referências aos grupos do rock nacional dos anos 70 envolve-se de forma amigável com todo o reduto da música brega que passou a brotar no mesmo período, desenvolvendo o cerne instrumental e poético da banda.

Ao contrário do álbum de 2005, em Uhuuu! o grupo se distancia visivelmente das excentricidades e composições nada fáceis que trouxeram a eles certo reconhecimento na imprensa musical, fazendo com que o trabalho não apenas ganhe contornos acessíveis, mas chegue bem próximo de um genuíno disco pop. Contando Estrelas é o momento que mais evidencia isso, tanto pelo despretensioso arranjo instrumental, quanto pela letra que segue pela mesma fluidez despojada, algo que se repete ainda em Dói e Escolher Pra Quê.

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Claro que as experimentações da banda seguem à todo vapor, embora se abram para que os não iniciados nesse tipo de música possam se “habituar” aos sons da banda. É o caso de faixas como Doido (com participação de Arnaldo Antunes), A Radiação na Terra ou Deus é uma viagem, que trajam uma couraça instrumental acessível, misturando toques de Tropicália com Odair José, mas que mantém em seu interior (principalmente através das letras) as mesmas resoluções exploradas nos primeiros álbuns do grupo.

Se em O Pobre dos Dentes de Ouro, Os Urubus Só Pensam em Te Comer ou O verdadeiro Conceito de um Preconceito, todas composições vindas dos primeiros trabalhos e que manifestavam um aspecto bruto, rebuscado em sua concepção, porém não menos brilhantes, com o terceiro disco há uma espécie de plasticidade tomando conta das canções. As guitarras de Catatau soam muito mais claras, assim como os teclados, antes utilizados de forma climática, mas agora assumindo longos solos, invadindo as músicas e trazendo ainda mais beleza aos sons dos cearenses.

Se após o lançamento de O Método Túfo… o Cidadão Instigado se revelava para um bom número de indivíduos em busca de novidades em solo brasileiro, com Uhuuu! a banda se firma categórica no topo dos maiores artistas da atual geração. A boa recepção do álbum acabou abrindo as portas para que grande parcela dos integrantes da banda levassem suas intervenções ao trabalho de outros artistas, como Otto ou Arnaldo Antunes, deixando que as raízes do grupo esticassem até alcançar distintos tipos de solos.

Uhuuu! (2009)

Nota: 9.8
Para quem gosta de: Otto, Wado e Curumin
Ouça: Contando Estrelas

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.