Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2011

Pata de Elefante
Brazilian/Rock/Instrumental
http://www.myspace.com/bandapatadeelefante

 

Por: Cleber Facchi

Rifes de guitarra carregados pelos sons das décadas de 60 e 70, acordes montados de forma pegajosa, uma bateria funcional, pianos e um clima cativante, tudo isso sem mencionar uma única palavra. Se não fosse pela ausência de versos Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha (2007), segundo álbum do Pata de Elefante seria um desses típicos álbuns do rock nacional, fornecendo hits para tocar em rádios e ocupando grande parte das trilhas de novelas. Entretanto, mesmo sem mencionar uma única palavra, a banda gaúcha monta um discurso em que é impossível para o ouvinte conseguir se esquivar.

Diferente do que se costuma encontrar através dos projetos de música instrumental no Brasil, em que bandas como Hurtmold, Macaco Bong ou Constantina dão formas a uma sonoridade repleta de experimentalismos, pendendo visivelmente para o post-rock, dentro dos álbuns do Pata de Elefante a instrumentação prima pela objetividade. Nada de composições alongadas, solos viajados, sobreposições de camadas acústicas e inspirações jazzísticas, para Daniel Mossmann (guitarra e baixo), Gabriel Guedes (guitarra e baixo) e Gustavo Telles (bateria) é a simplicidade das canções o que prevalece.

Mesmo que o trio formado em 2002 na capital Porto Alegre rume para a construção de um som mais acessível, a maneira detalhada com que a banda desenvolve suas canções é o que diferencia as criações do grupo. Quando o homônimo disco de estúdio da banda saiu em 2004 foram as formatações detalhistas, misturas de sons vindos de diferentes épocas e o direcionamento rápido do trabalho o que trouxe destaque ao iniciante projeto, algo que parece muito melhor explorado no álbum de 2007.

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Se através do primeiro álbum, o trio proporcionava uma viagem no tempo quase literal, trazendo referências que vão de Jimi Hendrix à Cream, de Beatles à Bob Dylan ou de The Who à Eric Clapton, sempre dentro de uma sonoridade pulsante, com a sequência de 2007 a banda volta ressaltando aspectos muito mais climáticos em sua obra. O disco todo parece desenhar a trilha sonora de algum filme de ação antigo, em que a dupla de personagens principais (Tango & Cash talvez) circulam por um cenário ensolarado, garotas de biquíni e carros conversíveis em cores nada convencionais.

É também dentro desse aspecto mais climático do álbum que inúmeras referências aos grandes compositores de trilhas sonoras, como Henri Mancini (A Pantera Cor-de-Rosa) e Ênio Morricone (O Bom, O Mau e o Feio) acabam se revelando. Canções como Gigante, Bang Bang (o nome já diz tudo) ou Satuanograso (que parece ter escapado de algum filme de Quentin Tarantino) poderiam facilmente servir de trilha ou tema de alguma produção hollywoodiana, trazendo surpreendente destaque ao álbum.

Mesmo aqueles que nunca concederam muito de seu tempo para a apreciação de algum trabalho do gênero encontrarão em alguma das 18 faixas de Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha algo que acabará chamando a atenção. Lançado através do selo Monstro Discos, o álbum e as apresentações da banda obtiveram enorme destaque, fazendo com que em 2009 o trio recebesse o prêmio de melhor banda de rock instrumental do país através do Video Music Brasil da MTV, apenas uma mera constatação de algo que há muito já era fato.

Um Olho No Fósforo, Outro na Fagulha (2007)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Retrofoguetes, Macaco Bong e Autoramas
Ouça: Satuanograso

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.