Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2011

Lobão
Brazilian/Rock/Singer-Songwriter
http://www.lobao.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Quando na primeira metade dos anos 2000 importantes nomes da música brasileira, que durante décadas estiveram amarrados às grandes gravadoras passaram a buscar por formas alternativas para lançarem seus discos – na busca de gerenciar seu próprio som ou por esbarrar com alguns “nãos” das Majors – foi a figura de João Luiz Woerdenbag Filho, o polêmico Lobão aquele que obteve grande destaque nessa transição. Dono de uma das discografias mais sólidas do nosso rock, o músico fez de seu álbum de 2005 uma possibilidade de experimentar novas estratégias, além de apresentar ao grande público o que era essa “desconhecida” música independente.

Embora seja Canções Dentro da Noite Escura (2005) o disco que marca a transição do carioca para longe das grandes gravadoras, em 1999 ao lançar A Vida é Doce, Lobão já havia experimentado como produzir e distribuir um trabalho sem amplo investimento. Por conta de um foco maior na MPB, o disco foi renegado pela antiga gravadora do músico, o que o obrigou a lançar o álbum de forma independente, através de um selo menor. Estavam definidas as bases para o que o músico desenvolveria em seu trabalho seguinte: lançar um disco com alcance nacional, mas que fosse difundido através de uma revista, nascia assim o projeto Outracoisa.

A ideia era simples: através de uma revista de publicação bimestral, os leitores teriam acesso não apenas a matérias com enfoque na área cultural, mas seriam agraciados com um lançamento de algum disco inédito, produzido por algum artista da cena independente nacional. Nesse esquema, nomes como BNegão e os Seletores de Frequências, Vanguart, Arnaldo Baptista e Mombojó tiveram seus trabalhos lançados, deixando para que em 2005 a revista presenteasse o público com o trabalho de seu criador.

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Melancólico e afundado em uma instrumentação variada que atravessa o rock de diferentes gerações e se encontra com um toque de seriedade da famigerada MPB, Lobão faz de seu décimo primeiro disco de estúdio um dos trabalhos mais maduros de toda sua carreira. Gravado, produzido, cantado e tocado em sua quase totalidade pelo músico Canções Dentro da Noite Escura mantém a mesma linguagem radiofônica adquirida pelo músico em sua longa carreira, porém emprega em cada uma de suas 13 faixas um toque de leve pessimismo e obscuridade.

Em seus versos, o carioca se entrega à saudade, grande parte dela motivada pelos amigos que haviam partido há décadas ou mesmo recentemente. Lobão homenageia Cazuza, dando vida à inédita Seda, entregue à ele pela mãe do cantor, morto em 1990. Dos manuscritos de dois poemas do também falecido Júlio Barroso (fundador do Gang 90 e as Absurdettes), o músico dá vida às faixas Não Quero o Seu Perdão e Quente, deixando para a amiga Cássia Eller os versos de Boa Noite Cinderela, inicialmente escritos na noite em que a cantora faleceu.

Soma-se ao conjunto de homenagens talhadas de maneira fúnebre, canções como Depois das Duas, Para Sempre essa Noite, Você e a Noite Escura e A Balada do Inimigo, faixas que tanto por suas letras, quanto pela instrumentação tragam o ouvinte para dentro da suposta noite escura que se espalha ao longo do álbum, banhando com densidade os ouvidos com a saudade e uma grossa penumbra amargurada.

Canções Dentro da Noite Escura (2005)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Cazuza, Wander Wildner e Arnaldo Antunes
Ouça: Quente

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.