Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 23/06/2011

Mombojó
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.myspace.com/mombojo
http://www.mombojo.com.br/

Por: Cleber Facchi

Antes mesmo que o terceiro disco da pernambucana Mombojó fosse lançado havia uma clara percepção de que ele viria instrumental e conceitualmente distante de qualquer experiência que a banda já tivesse elaborado. A morte precoce do flautista Rafael Torres em 2007 (por conta de um ataque cardíaco), a saída de Marcelo Campello, um dos integrantes da banda e a mudança para São Paulo influenciaram fortemente a carreira do agora quinteto, expondo no álbum Amigo do Tempo, de 2010, todo esse jogo de mudanças, adaptações e novos rumos na carreira do grupo.

Longe da antiga gravadora, a Trama Virtual, agora o quinteto assume sozinho todos os percalços e etapas na produção de um registro independente, encontrando na elaboração de projetos paralelos, a viabilização econômica para a construção do disco. Durante os quase quatro anos em que o Mombojó levou para entregar o novo álbum foram as apresentação através do Del Rey – projeto em parceria com o conterrâneo China e que foca em um repertório baseado nas músicas de Roberto Carlos – que trouxe a possibilidade de que o terceiro fosse de fato finalizado.

Embora os anteriores trabalho dos pernambucanos – Nadadenovo (2004) e Homem-Espuma (2006) – fossem em sua quase totalidade acompanhados de canções acalentadas, mesclando diferentes gerações, ritmos e tendências musicais é na melancolia e na produção de um som mais ameno que o quinteto – Chiquinho, Felipe S, Marcelo Machado, Samuel e Vicente Machado – se concentra em seu terceiro álbum. A calmaria, entretanto, não impede que os recifenses proporcionem um álbum primoroso, tomado pelos detalhes e pela mesma multiplicidade rítmica de outrora.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=1gX_Vre9wak]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=3cVRRuo_IDY]

Mesmo que o álbum venha acompanhado por uma maré de sons amargurados e letras carregadas de toques dolorosos (como em Praia da Solidão), logo na primeira canção do disco, Entre a União e a Saudade, os vocais de Felipe S deixam escorrer um fino sentimento de esperança. “Triste quando alguém desiste e não insiste em acertar/ Mesmo quando fico triste tento sorrir” canta ele, apontando para algum caminho futuro, menos doloroso, algo que se repete em Justamente, em que os versos “Preciso ir além dos dias” e “me esforçar um pouco mais” seguem pela mesma temática.

Se o caráter brando do trabalho é o que predomina, o quinteto não faz disso uma ordem inalterável para suas canções. Eventualmente faixas como Passarinho Colorido, Amigo do Tempo, Casa Caiada e a exaltada Papapa (que recebeu um clipe de puro entusiasmo) acabam se apresentando, quebrando a maré de calmaria que preenche o disco. A banda aproveita para coordenar de maneira eficiente todas as temáticas exploradas em sua música, gerando canções bem definidas e donas de um som muito mais apurado que aquele apontado anteriormente em seus discos.

Em um ano em que Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Holger e Do Amor faziam de suas estreias um caminho fácil para assumir o topo das listas dos grandes lançamentos é a experiência e o cuidado instrumental do Mombojó que os situa como grandes anunciadores da boa música. O terceiro álbum do grupo recifense (ou agora paulista) consegue armazenar toda a dor, as dificuldades e as incontáveis mudanças que circundaram a carreira do grupo, transformando isso em um registro de pura sensibilidade.

Amigo do Tempo (2010)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: China, Eddie e Los Hermanos
Ouça: Amigo do Tempo ou Passarinho Colorido

[soundcloud width=”100%” height=”265″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/playlists/675023″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.