Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2011

Do Amor
Brazilian/Alternative/Axé
http://www.myspace.com/doamor

Por: Cleber Facchi

Rock se encontrando com Carimbó, Hardcore agarrado ao Samba e tudo isso com um tempero mais do que exagerado de Axé, um tipo de mistura que definiu a cara e a sonoridade do rock brasileiro em boa parte da década de 1990, mas que durante um bom tempo pareceu esquecido em terras tupiniquins, isso até a chegada da banda carioca Do Amor. Formada por músicos de apoio de algumas dos artistas mais importantes da cena nacional na última década, o quarteto fez de seu disco de estreia um trabalho que esbanja criatividade, calor e uma brasilidade que se estava extinta voltou à vida.

Se as primeiras apresentações e músicas do quarteto formado por Gabriel Bubu (guitarra), Gustavo Benjão (guitarra), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo) foram todas construídas em tom de brincadeira, não demorou muito para que tudo logo se transformasse em coisa séria. Em 2009 quando a banda lançava seu primeiro EP havia em cada uma das cinco faixas um tipo de ritmo bem diluído, tomado pela boa instrumentação de seus integrantes e um despojo acalentado, capaz de exprimir o compromisso do grupo e ao mesmo tempo o tom de diversão.

É dentro dessa lógica que a banda faz de sua autointitulada estreia – lançada em setembro de 2010 – um registro que expõem o primor dos quatro instrumentistas (todos se revezando na hora de assumir os vocais) e uma funcionalidade dançante, repleta de comicidade e um tipo de (des)comprometimento que poucos trabalhos lançados ao longo dos anos 2000 conseguiram proporcionar. Com uma produção mais do que acertada de Chico Neves, o álbum apresenta 14 faixas que parecem se extinguir em segundos.

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Embora dinâmico, não há como apresentar o disco como expositor de algo inédito, afinal, grupos como Raimundos ou Acabou La Tequila (forte influência da banda) trouxeram esse mesmo tipo de temática em seus trabalhos nos anos 90. É possível ir ainda mais além, encontrando na vasta obra do coletivo Novos Baianos muito do que forma a sonoridade da Do Amor. O próprio Pepeu Gomes, guitarrista da do grupo baiano acaba citado na faixa Pepeu Baixou em Mim, além de trazer para o disco toda a tonalidade das guitarras e a mistura acalentada que une rock com axé encontrado nas faixas Perdizes e Vem Me Dar.

Do caldeirão de referências da banda borbulham faixas aos moldes de Chalé, em que o quarteto deixa de lado a fluidez da música brasileira para se apegar aos sons da New Wave. Já o Reggae e o Dub também ocupam lugar de destaque espaço no disco, transformando Brainy Dayz em um amontoado de sons esvoaçados, enquanto Shop Chop, Exploit e Homem Bicho trazem certo toque de experimentação e estranheza ao trabalho.

Em meio a versos montados dentro de uma métrica pegajosa e pop, os cariocas fazem de faixas como Isso é Carimbó, Morena Russa, Lindo Lago do Amor, além das já mencionadas uma série de canções que poderiam facilmente se transformar em hits passageiros na voz de alguma diva do axé baiano ou de algum grupo de música brega paraense, mas que parecem confortavelmente não descartáveis quando inseridos dentro da lógica deste disco. Bem humorado e tomado por uma excelente instrumentação, o Do Amor brinca de fazer música brasileira em sua estreia e mesmo brincando consegue acertar.

Do Amor (2011)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Acabou La Tequila, Calypso e Luiz Caldas
Ouça: Pepeu Baixou em Mim

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.