Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 29/06/2011

Emicida
Brazilian/Hip-Hop/Rap
http://www.myspace.com/emicida

Por: Cleber Facchi

Se ao estrear em 2009, o paulistano Leandro Roque de Oliveira, ou simplesmente Emicida tomava as rédeas (e as rimas) do hip-hop nacional, com sua segunda mixtape, lançada logo no ano seguinte o rapper não apenas manteria uma boa posição dentro do gênero que trouxe a ele destaque, como alcançaria novos e altíssimos voos dentro da música nacional. Bem recepcionado pela crítica e pelo público, Emicida experimentou novas temáticas e ampliou seus horizontes em seu segundo disco, tudo isso sem esquecer daquilo que o tornou reconhecido: os bons versos.

“A Rua é Nóiz”, o grande lema do primeiro álbum ainda se mantém em Emicídio (2010, Laboratório Fantasma), porém, enquanto em seu primo trabalho o rapper focava em sua história e no cotidiano da periferia que o cercava, com o segundo disco o paulistano amplia ao máximo seu enfoque, trazendo para junto de seus versos um conteúdo estendido de temáticas. “Agora nóiz têm carro, casa, comida/ E vai cantar que não dá pra vencer na vida”, canta ele em E Agora?, faixa que abre o disco e que parece colher os frutos de seu trabalho, porém sem nunca deixar de lado o aspecto humilde retratado em seu debut.

A peculiaridade “bairrista” ou os pequenos recortes do cotidiano que acabaram resultando em faixas como Rotina, Preciso (Melô do Mundiko) e todo o concentrado de composições românticas que cercavam Emicida em sua estreia parecem finalmente desplugados em sua sequência. Mesmo com um pé bem cravado na periferia, agora o rapper aponta para novas direções, olhando não apenas para o bairro que o cerca, mas para a cidade e todo o amontoado de prédios, histórias e personagens que lá se encontram.

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Essa busca por novos temas em suas composições acaba resultando em faixas como Rua Augusta, em que através do jogo de metáforas e uma vasta coleção de palavras, o rapper discorre sobre a prostituição de forma madura e lírica. O mesmo efeito se instala em Um Final de Semana ou Velhos Amigos, ambas canções que deixam os versos de Emicida se desenvolverem de forma menos rebuscada. A mesma fluência se encontra nas batidas e nos samples que compõem o álbum, elementos tornam o álbum um registro maduro e distante do aspecto caseiro levantado na estreia.

Ao mesmo tempo em que ruma para o centro da cidade, o rapper traz uma vasta herança, sendo que muito dela se conecta aos antigos duelos de MCs, batalhas que inclusive foram cruciais para presentearem o paulistano com o nome de “Emicida” (uma sigla para Enquanto Minha Imaginação Compor Insanidades Domino a Arte). Dentro desse enfoque surgem faixas como Santa Cruz (que em seu fecho traz uma gravação antiga de uma batalha da qual o rapper participou) e a quase épica Rinha (Já ouviu falar?), que rompe os limites nostálgicos e ganha contornos filosóficos.

Lançado através do selo Laboratório Fantasma, Emicídio contou com uma boa estratégia de vendas, sendo comercializado ao preço máximo de R$5,00 e distribuído em diversos setores espalhados por todo o país. Com uma recepção ainda maior que em seu primeiro disco, o álbum foi figura fácil nas principais listas de melhores lançamentos em todo o Brasil, abrindo inclusive as portas para que o rapper se apresentasse na edição 2011 do festival norte-americano Coachella. Emicida há muito não era mais um personagem do underground paulistano e seu segundo disco apenas comprova isso.

Emicídio (2011)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Kamau, Rael da Rima e Criolo
Ouça: Rinha (Já ouviu falar?)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.