Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 05/07/2011

Violins
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://www.myspace.com/violinsbr

Por: Cleber Facchi

Embora sejam quase sempre lembrados pelo resultado alcançado no disco Tribunal Surdo (Monstro Discos) de 2007, a banda goiana Violins vem de uma sucessão de belos e bem conduzidos álbuns, trabalhos que desde sua estreia com Wake Up and Dream – quando ainda cantavam em inglês e carregavam uma série de referências do Radiohead da fase The Bends – já revelavam todo o potencial do grupo comandado por Beto Cupertino. Mesmo que seja pelo quarto álbum que a banda acabe lembrada foi com o trabalho anterior que o grupo de fato alcançou a maturidade.

Grandes Infiéis (2005, Monstro Discos) se revela como uma quebra brusca instrumental e poética em relação ao que o grupo vinha construindo. Se até aquele momento a banda parecia mais interessada em dar sequência aos sons melódicos que a turma de Thom Yorke vinha propondo em seus trabalhos, com o novo registro o peso das guitarras crescem de forma visível em relação ao seu predecessor, Aurora Prisma de 2003, entregando ali parte daquilo que seria compreendido como o ponto de maturação da banda.

Mesmo que ainda existisse muito do que conduzia a sonoridade do grupo, logo na primeira faixa do disco, Hans, a banda já deixa mais do que claro que os rumos ali são outros. Claro que ainda há uma condução melódica por parte das guitarras que delimitam o disco, algo que abrange todas as 12 faixas do registro, entretanto, ao mesmo tempo em que existe certa suavidade dentro das canções uma leve penumbra ruidosa se apodera parcialmente do álbum, afastando a banda das diversas referências do passado e criando um tipo de identidade.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=5PD8zwqpYvc&playnext=1&list=PL51997B74C658B912]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=tlPkEa8om2s&playnext=1&list=PL51997B74C658B912]

Se musicalmente o álbum demonstra uma espécie de Violins renovado e dono de um som próprio é através dos versos das canções que a banda evidencia suas mudanças de maneira muito mais brusca e latente. A melancolia romântica e existencialista que se apoderava de boa parte das canções encontradas nos álbuns anteriores ainda se mantém, entretanto Cupertino traz para dentro do disco um jogo de versos vão muito além de seus anteriores trabalhos, rabiscando as bases daquilo que seria o grande centro do álbum seguinte.

É na utilização de versos que ressaltem um cotidiano pessimista e sombrio que as faixas do disco concentram todos seus esforços. Vendedor de Rins e Atriz são duas composições que bem representam em que se baseia toda a consistência poética do álbum, gerando um apanhado de versos que embora brinquem com o uso das metáforas podem facilmente ser encarados como pequenas crônicas musicadas, casos que parecem ter escapado de um universo rebuscado e peculiar, com Cupertino se evidenciando como um narrador de tais acontecimentos.

A quebra brusca idealizada pela banda em Grandes Infiéis seria apenas um princípio de uma série de constantes quebras que viriam nos trabalhos seguintes. Entretanto é dentro deste terceiro álbum que a banda parece delimitar todos os tipos de estratégias, sonoridades e a poesia a ser despejada em seus futuros lançamentos, fazendo do disco um verdadeiro exercício de experimentações variadas, algo que facilmente poderia soar como um suicídio na carreira de qualquer banda, mas que nas mãos do Violins se transforma em um registro de pura beleza e sensações intrigantes.

Grandes Infiéis (2005, Monstro Discos)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Ludovic, Terminal Guadalupe e Poléxia
Ouça: Atriz

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.