Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 02/02/2011

Beto Só
Indie/Singer-Songwriter/Alternative
http://www.myspace.com/betoso

 

“O caminho é longo, mas não tenho pressa…” com esses versos o brasiliense Beto Só abre seu segundo trabalho de estúdio, o delicado Dias Mais Tranqüilos (2008), um álbum que surge como uma resposta aos dias corridos, os problemas do passado e os excessos da vida diária. Composto por arranjos delicados de violão, guitarras suaves, pianos e a voz acalentadora do vocalista, o disco transborda em lirismo e transporta o ouvinte para dentro de um universo onde “vida boa, não é vida ganha”.

Apesar de soar como um trabalho solitário o álbum do brasiliense vem rodeado de amigos e participações que vão da capa do disco à sua produção. Quem coordena as gravações é Phelipe Seabra do Plebe Rube, enquanto a dupla de irmãos gaúchos Gustavo e Thomas Dreher assume a masterização e a mixagem das faixas. Para o encarte do álbum é a amiga Cecília Mori quem empresta sua arte. Nas gravações do disco Beto Cavani assumiu a bateria, Ju e Bruno Sres as guitarras, além dos teclados de Felipe Portilho. O baixou ficou sobre o comando do produtor Seabra.

As composições do disco, porém, não trazem apenas exaltações aos dias mais tranquilos, bem pelo contrário. Há muitas recaídas e boa parte delas se posiciona em dias nada fáceis, como se o compositor fosse aos poucos lutando contra uma boa soma de fantasmas e problemas do passado, que agora só começam a assentar. Em Tão Tarde quando Só canta “E eu só estava tentando me tornar melhor/Pra poder acreditar que mereço você/Mas voltei tarde demais” fica visível o quão tortuoso foram os dias passados até a busca dos momentos de tranquilidade.

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Contudo é na esperança dessa fase renovada e positivista que as faixas se firmam. “A vida de antes ficou pra trás/Ontem e hoje/Nunca mais” exalta o músico em Leite e Café, uma das muitas composições que apontam para o lado revigorado do disco. Essa nova fase também permite que o músico se apaixone como em Desatento (Quero estar desatento/Pra você chegar), se declare em O Tempo Contra Nós (“Uma rotina atroz tenta nos afastar/Deixa ela tentar, deixa ela perceber/Que você é minha e eu de você”) e se livrar de vez dos antigos fantasmas em Abre a Janela (“Vê se me esquece/vê se não liga/ Vê se não volta/Vê se morre”), de longe uma das melhores composições do álbum.

Quando lançado em 2008 foram poucos os sites ou revistas que perceberam a beleza e a sofisticação do sincero álbum. Seria a amargura dos críticos em aceitar o universo proposto por Só ou estariam eles ainda perdidos na mesma agonia que antecede a proposta do álbum?

Dias Mais Tranqüilos é um trabalho maduro, instrumentalmente bem conduzido e que tem nas letras seu ponto central. A melancolia sublime que vai tomando forma ao longo do disco de Beto Só vem de maneira a orientar categoricamente o ouvinte. Como se até chegar a esses dias de paz fosse necessário muito esforço. E o músico não esconde isso em nenhum momento, afinal:

 

“E se chover pode deixar

Deixa cair se é pra limpar”

 

Dias mais tranqüilos (2008)

 

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Prot(o), Hotel Avenida e Lestics
Ouça: Leite e Café

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.