Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2011

Cérebro Eletrônico
Brazilian/Psychedelic/Experimental
http://cerebroeletronico.com/deod/

Por: Cleber Facchi

“Perdi a decência/ Ontem eu perdi a noção/ Perdi a compostura, a cabeça/ Eu perdi a razão” é dentro dessa lógica apontada através dos primeiros versos da faixa Decência que a paulistana Cérebro Eletrônico dá condução ao seu terceiro álbum, Deus e o Diabo no Liquidificador (2010, Phonobase), disco que brinca com a psicodelia e as excentricidades de maneira futurística. Seguindo pelo mesmo caminho iniciado em seu trabalho anterior, Pareço Moderno de 2008, a banda joga com os sons e as letras de maneira despojada, inventiva e autoral.

Se através do segundo disco Tatá Aeroplano e seus parceiros embarcavam em uma sequência de sons viajados, ressaltando em sua instrumentação certo toque de bucolismo, algo bastante evidente nas faixas , Mar Morro e Talentoso, com o álbum seguinte a banda – que além de Aeroplano (voz e efeitos) traz Fernando Maranho (guitarra), Fernando Trz (teclado), Gustavo Souza (bateria) e Renato Cortez (baixo) – deixa a atmosfera suave para se ligar em 220v. O resultado desse apanhado elétrico se traduz em um disco muito mais dinâmico e tomado por uma atmosfera totalmente urbana.

Protegidos por um bem conduzido jogo de guitarras, distorções e boas sequências instrumentais surgem uma série de versos fáceis e ainda mais divertidos do que aqueles lançados no trabalho anterior. “Deus é mais/ O diabo é menos/ O homem é mais ou menos” lança Tatá de maneira filosófica em Os Dados Estão Lançados ou ainda de maneira desesperada “Que eu só saio dessa cama/ Quando você me disser/ Decidida/ Que me ama” na romântica e sofrida Cama, duas faixas que exemplificam a variante de temas e sons que delimitam o disco.

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É através desses mesmos versos que a banda vai construindo um apanhado de referências lisérgicas ao longo de todo o trabalho, sempre se dividindo entre a diversão e melancolia de forma muito mais explícita que a explorada anteriormente. “Ontem eu fumei um baseado/ Estava tão sozinho e tão tranquilo” brinca Aeroplano  em O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco, ainda fazendo menções sobre cocaína em Cama (“Bote um ‘padê’ poderoso”) ou o uso de álcool em Sóbrio e Só (“Ou me acabo em álcool”)

Com participações de Helio Flanders (Vanguart), Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Carlos Zimbher, Gustavo Galo (Trupe Chá de Boldo), Dudu Tsuda (teclado), Guilherme Calzavara (trompete), Maurício Fleury (teclado), Isidoro Cobra (voz), Alfredo Bello (moog e voz), Ana Elisa Colomar (violoncelo), Cíntia Zanco (violino) e Marcelo Monteiro (sax e flauta) o disco deixa transparecer uma aura de grande coletivo, trazendo óbvias referências ao que era construído nos tempos da tropicália ou na música brasileira entre os anos 60 e 70.

Produzido por Alfredo Bello (DJ Tudo) e Fernando Maranho o álbum foi figura fácil nas listas dos melhores do ano em sua época de lançamento. Na tentativa de comercializar o disco, a banda desenvolveu uma série de estratégias, indo de alternativas mais baratas, como a venda do álbum em formato físico ou comercializado em formato MP3, até estratégias para colecionadores com um preço bem mais elevado, envolvendo além do disco gravuras feitas artesanalmente pelo próprio Tatá Aeroplano.

Deus e o Diabo no Liquidificador (2010, Phonobase)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Jumbo Elektro, Supercordas e Cidadão Instigado
Ouça: Decência

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.