Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 08/07/2011

Nação Zumbi
Brazilian/Manguebeat/Alternative
http://www.myspace.com/nacaozumbi
http://www.nacaozumbi.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Se ao lançar Rádio S.Amb.A em meados dos anos 2000, o Nação Zumbi dava um passo importante em sua carreira, mostrando ao publico temeroso que havia sim a possibilidade do grupo continuar, mesmo sem a fundamental presença de seu antigo líder Chico Science, com o segundo disco dentro dessa nova fase, a banda botaria o ponto final em qualquer tipo de debate que ainda questionasse a funcionalidade do grupo. Puxado pelos vocais de Jorge Du Peixe, o grupo calaria de vez as vozes e as críticas daqueles que anteriormente haviam se voltado contra ela.

Literalmente um soco, ou quem sabe uma série deles, assim pode ser definido o homônimo álbum lançado pelos pernambucanos em 2002. Quarto registro na discografia do grupo e primeiro trabalho lançado através da Trama, o álbum de 12 faixas entrega uma Nação Zumbi completamente distinta daquele que um dia chamou as atenções da imprensa e do público em meados da década de 1990. Levemente distante das origens ligadas ao Manguebeat – movimento que inclusive ajudaram a criar –, a banda estufa o peito e se enche de peso em seu agressivo disco.

Da primeira à última faixa, o disco é uma sequência de guitarradas densas, uma percussão pesada e vocais adornados de efeitos eletrônicos sujos. O tempero brasileiro que tomava conta do álbuns anteriores parece adormecido dentro do disco, com a banda se aproximando de um som muito mais voltado ao rock – os sons da década de 70 que brilhariam no disco seguinte, Futura (2005) tem seus princípios aqui traçados – e até se arriscando a cantar em inglês, como nas faixas Amnésia Express e Know Now.

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Mesmo que as tradicionais guitarras de Lúcio Maia ganhem destaque ao longo do disco, pontuando cada uma das faixas de forma precisa e raivosa em grande parte do tempo, a concisão dos instrumentos e o agrupamento de todos os sons é o que parece definir o seguimento do registro. Guitarra, baixo, bateria, percussão e efeitos parecem alinhados dentro de uma mesma lógica, como se cada um deles tivesse a mesma importância, sem qualquer tipo de distinção. Como resultado as faixas revelam um som denso, quase intransponível e até sufocante em determinadas músicas.

Ao mesmo tempo em que a banda parte para a construção de uma sonoridade mais pesada e roqueira, algumas faixas desafiam o grupo a se afundar em sons carregados de delays, despojo e claras aproximações com o dub e o reggae. Ogan Di Bele é um bom exemplo disco, com o grupo todo se derretendo em meio a sons esvoaçados, guitarras chapadas, um baixo pontual e uma percussão solta, sons amarrados de forma completamente distantes da parece delimitar o quarto álbum dos recifenses.

Embora soasse de maneira distinta naquele momento, o álbum traçaria os claros rumos que a banda viria a desenvolver em seus álbuns seguintes, seja a psicodelia em preto e branco no álbum Futura ou o calidoscópio de cores em Fome de Tudo (2007). Seco e direto ao ponto, o quarto registro da Nação Zumbi é um álbum que, além de calar aqueles que desmereciam o trabalho do grupo mostra que em mais de dez anos de carreira a banda soube manter uma rotatividade em sua musicalidade, revelando um dos maiores registros da última década.

 

Nação Zumbi (2002, Trama)

 

Nota: 9.5
Para quem gosta de: Maquinado, Mundo Livre S/A e Otto
Ouça: Mormaço

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.