Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2011

De Leve
Brazilian/Hip-Hop/Rap

Por: Cleber Facchi

 

Amado por muitos e odiado por uma maioria, o carioca Ramon Moreno de Freitas, ou De Leve foi um dos responsáveis por em meados dos anos 2000 transportar o hip-hop – antes limitado às minorias e em sua quase totalidade visto como uma música das periferias – para dentro do grande público. Irônico, desbocado e antecipando tendências, sejam elas técnicas ou sonoras, o rapper faz de sua estreia solo um disco carregado de comicidade, letras sujas, trocadilhos e a delimitação de um estilo quase filosófico de ser, o Estilo Foda-Se.

Enquanto a industria musical brasileira aproveitava seus últimos momentos de glória, faturando em cima das vendas de CDs e no domínio de seu casting, De Leve antecipa logo na abertura do disco o que seria delimitado no panorama musical em um futuro próximo. “É da Internet. Pode baixar é grátis” entrega ele na primeira faixa do álbum, Pra Bombar No Seu Estéreo, canção em que brinca e ridiculariza os clichês e excessos da música pop, além de anunciar a gratuidade de seu disco via rede, irritando sua própria gravadora, a gigante Sony Music.

Com o crescimento da internet banda larga no país, De Leve foi um dos responsáveis por disseminar a cultura do download via P2P (do inglês Peer To Peer), disponibilizando boa parte das faixas do álbum (se não o disco todo) através do programa de compartilhamento Napster. A estratégia já havia sido testada anteriormente com o primeiro EP do músico, Introduzindo De Leve de 2001, algo que posteriormente seria substituído pela legalização dos downloads via sistema Creative Commons.

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Diferente do que era proclamado pelo hip-hop nacional até o presente momento – que tinha nos versos e nos discos dos Racionais MCs e do Planet Hemp seus maiores, se não únicos grandes representantes -, o carioca segue por uma via completamente distinta. Se afastando da criação de faixas que trouxessem um teor politizado ao disco e focando na produção de versos carregados de bom humor, acidez e o uso nada ponderado de palavrões, o rapper transforma seu primeiro álbum em um reduto de comicidade e até alguns pequenos constrangimentos.

Nada escapa do disparar de versos rápidos e debochados do carioca. “Mestruação ‘A gente carrega esse fardo’/ Comer vocês assim é igual galinha ao molho pardo”, proclama o rapper na quarta faixa do disco, Menstrução, música que se adorna de versos carregados de machismo, escatologia e um humor capaz de constranger. KLB, Djavan, Gilberto Gil ou mesmo Sandy são escrachados em Pra Bombar No Seu Estéreo isso enquanto cria um herói dos ébrios em Caipirinha Man ou tira sarro de si mesmo em Rapper de Mentira.

Diversas vezes comparado com o rapper norte-americano Eminen – motivo mais do que explicado pelo teor de seus versos -, De Leve fez das pequenas polêmicas sobre seu trabalho uma escada mais do que segura para desenvolver sua carreira. Se O Estilo Foda-Se soa como um reduto de completo despudor, o disco acabaria se revelando como um simplório rascunho perto do que seria desenvolvido em seu sucessor, Manifesto ½ 171 (2006), com o carioca voltando ainda mais ácido e bem humorado que em sua estreia.

 

O Estilo Foda-se (2003, Sony Music)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Quinto Andar, Marechal e Black Alien
Ouça: Pra Bombar no Seu Estéreo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.