Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 13/07/2011

Tom Zé
Brazilian/Experimental/Alternative
http://www.tomze.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Os anos de ostracismo que tomaram conta de Tom Zé na década de 1980, além do retorno tímido na metade dos anos 90 foram aos poucos fervendo a grande panela de pressão que aprisionava o espirito satírico que há tempos parecia trancafiado na memória do músico. Com a chegada do novo milênio, nem correntes, nem amarras puderam segurar o suposto espírito brincalhão que não se contentou em produzir apenas um, mas sim uma série de excelentes álbuns, quase todos conduzidos por uma temática, permitindo ao filho de Irará passear por diferentes óticas, lógicas e experiências.

Após a boa repercussão do álbum Jogos de Armar (Faça Você Mesmo) lançado em meados de 2000, o baiano foi encontrar nas páginas dos jornais a inspiração para desenvolver seu novo e criativo registro. Valendo-se de matérias de capa ou notícias parcialmente ocultas nas páginas dos periódicos nasceu em 2003 o excêntrico Imprensa Cantada (Trama), álbum que joga com os ritmos, letras e sensações, invertendo completamente a lógica dos ouvintes que são conduzidos não mais conduzido por um senhor de sessenta anos, mas um moleque descontrolado e hiperativo.

Samba, rock, pagode, axé, baião, pop, bossa nova ou qualquer outro estilo musical que passasse pelas mãos de Tom Zé seria simplesmente jogado dentro de um grande liquidificador mental, moído e remontado dentro das propostas do próprio músico. Em 14 faixas, tudo surge como um elemento de prova, com o artista experimentando até mesmo o que já era experimental, preenchendo qualquer lacuna que pudesse se evidenciar com uma vasta dose de sua massa de excentricidade.

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Se o trabalho vinha como um olhar sobre a imprensa brasileira e internacional, com a Guerra do Iraque em seu ápice durante o período de produção do álbum, Zé não poderia deixar que tal acontecimento passasse despercebido. Exemplo disso se encontra na abertura do disco, apresentando duas composições atreladas aos fatos vindos ao oriente-médio. Enquanto Dona Divergência (de Lupicínio Rodrigues) ecoada à capela desponta um caráter melancólico, Companheiro Bush chega tomada de comicidade, colando fácil através dos versos “Se você já sabe quem vendeu/ aquela bomba pro Iraque/ Desembuche: eu desconfio que foi o Bush”.

Além da Guerra no Iraque, que involuntariamente acaba gerando uma série de composições dicotômicas, explorando a divisão entre guerra e paz – um exemplo disso se encontra na faixa Urgente pela Paz -, Imprensa Cantada utiliza da censura como um dos motes do registro. Tanto Sem Saia, Sem Cera, Censura como Requerimento à Censura exploram o tema de forma brilhante, fazendo um leve retrospecto ao tempo da ditadura, sem jamais transitar por um caminho obscuro, mantendo o bom humor como seu mecanismo de frente.

Embora conte com Jair Oliveira (filho de Jair Rodrigues) em sua produção, além de uma série de participações como Kid Vinil, Max de Castro e João Marcelo Bôscolli, o álbum parece fruto próprio e individual da mente de Tom Zé, que corre em todas as direções ao longo do trabalho sem nunca se cansar. Com o disco, o músico daria início a uma série de brilhantes registros, como Estudando o Pagode (2005) e Danç-Êh-Sá (2006), não encontrando limites para sua sempre mutável obra.

 

Imprensa Cantada (2003, Trama)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Novos Baianos, Cidadão Instigado e Caetano Veloso
Ouça: Companheiro Bush

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.