Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 14/07/2011

Juliana R.
Brazilian/Folk/Indie
http://www.myspace.com/juliana.r

 Por: Cleber Facchi

Desde que cheguei, ninguém para confiar/ Para num abraço me confortar, me acomodar/ Desde que cheguei, ninguém para acreditar”. É dentro desse encontro de versos sorumbáticos, carentes e quase pessimistas que a paulistana Juliana R. monta parte do repertório que define seu primeiro e autointitulado trabalho de estreia. Lançado através do projeto SPsonica e precedido de um EP com quatro faixas, o delicado álbum transita em um mar de referências, bebericando graciosamente de distintos períodos musicais.

Da década de 1950 vêm os leves toques de sonoridade country. Dos anos 60 surge seu visual, a Bossa Nova, os elementos tropicalistas e, claro, a música folk, que tanto personifica sua obra. Um tempero experimental, além de um toque de música jamaicana saltam diretamente dos anos 70, enquanto a musicalidade lo-fi e a clara herança deixada por Cat Power são frutos diretos da década de 1990, gerando assim um vasto caleidoscópio musical.

Dentro dessa miscelânea de tão vastos sons e bases instrumentais, a musicista consegue não apenas absorver doses imoderadas de referências, como é capaz de forma mais do que natural desenvolver um tipo de sonoridade perceptivelmente sua. A pluralidade de ritmos e tendências musicais (em determinados momentos duas ou mais em uma única faixa) fazem com a em cada audição sejamos cercados por uma camada instrumental nostálgica, capaz de nos fazer regressar à diferentes épocas da música.

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Cantando em inglês (Dry These Tears, Since I’ve Met You e If You Could See Me Now), espanhol (El Hueco) e português a paulistana cerca o ouvinte de inúmeras maneiras, fazendo com que seus vocais, sempre divididos entre o doce e o amargo, se desmanchem confortavelmente em nossos tímpanos. Mesmo que algumas composições soem demasiadamente moderadas, a boa condução de Desde Que Cheguei, Dry These Tears e algumas outras composições impossibilitam que o álbum passe despercebido.

Mesmo que o álbum seja em sua totalidade embarcado por canções de amor e momentos de solidão, o vasto apanhado instrumental e os versos sempre mutáveis das composições fazem com que cada faixa se revele de maneira inédita ao ouvinte. Dessa forma é possível que Vou Ver, De Repente e Longe, mesmo trabalhadas dentro da mesma temática se revelem como canções completamente distantes e inéditas.

Contrária a outros representantes do folk nacional, como Mallu Magalhães ou Rosie and Me, Juliana R. encontra em seu primeiro álbum um tipo de condução bem peculiar e estratégica. Ao mesmo tempo em que as faixas carregam distintas e variadas referências musicais é a simplicidade e a ternura por ela retratada que acabam chamando a atenção. Assim, mesmo sem entender o ouvinte acaba inundado por um verdadeiro oceano de distintas impressões, tendo apenas a voz da cantora como seu único elemento de guia.

 

Juliana R. (2010)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Rosie and Me, Mallu Magalhães e Vanguart
Ouça: Desde Que Cheguei e Dry These Tears

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.