Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 16/07/2011

A Banda de Joseph Tourton
Brazilian/Post-Rock/Experimental
http://www.myspace.com/josephtourton

 

Por: Cleber Facchi

Um diálogo sem palavras, assim se estabelece o primeiro álbum do grupo pernambucano A Banda de Joseph Tourton. Em mais de 50 minutos de duração, o quarteto vindo da capital Recife se propõe como um grande locutor em seu diálogo simbólico, relacionado temas românticos, filosóficos e cotidianos através de suas nada ponderadas composições. Fazendo uso de uma conversação que contrária ao uso de sílabas se manifesta por notas musicais, falas se transformam em harmonias e gritos se dissolvem em solos límpidos de guitarra, a banda mesmo sem nenhuma palavra consegue falar mais do que muitos grupos, dignos de “grandes” versos.

Mesmo seguindo a escola inaugurada pelos principais nomes do pós-rock em meados dos anos 90, a sonoridade construída por Diogo Guedes (guitarra), Gabriel Izidoro (guitarra, escaleta e flauta transversal), Rafael Gadelha (baixo) e Pedro Bandeira (bateria) ao longo de todo o registro se organiza de maneira muito própria e bem conduzida. Contrários ao que muitos desenvolvem (praticamente copiando o que Mogwai, Tortoise ou outros grandes representantes do gênero executam), a banda não quer apenas honrar suas raízes, mas sim criar.

O intercalar de referências jazzísticas ou mesmas voltadas ao rock alternativo, o que por si só movimentaria tranquilamente um disco inteiro, pelas mãos do quarteto ganha um tempero extra em sua condução: um leve toque de regionalismo. Em cada mínimo segundo de suas faixas, a banda não perde tempo em puxar sua obra para dentro do contexto regional em que estão estabelecidos, brincando com os ritmos tradicionais de Pernambuco de forma excêntrica e dentro de lógicas sempre pervertidas.

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Embora sigam por uma sonoridade lógica e de fácil aproximação com o ouvinte é dentro de pequenas esquizofrenias rítmicas e doses imoderadas de experimentações que a banda dá real destaque à sua obra. Seja o cruzamento entre o jazz e o rock experimental dos anos 70 na faixa 100m – com participação de Guilherme Mendonça (Guizado) no trompete – ou a ambientação densa de O Triunfo de Salomão (faixa conduzida por um colossal duelo de guitarras), nenhuma composição se dissolve de forma lógica ou instrumentalmente imutável dentro do álbum.

Mesmo que a condução do grupo seja a de se embrenhar por um terreno de pura experimentação e provas diversificadas de tendências musicais, o quarteto segue os passos de outros grupos, como Macaco Bong e Burro Morto, desenvolvendo suas viagens instrumentais, porém mantendo sempre os dois pés no chão. Dessa forma, sempre que a banda começa a desenvolver um som demasiado etéreo, a gravidado os traz de volta para o chão, mantendo a concisão do registro e uma melhor construção das faixas.

Com produção dividida entre Marcelo Machado, Felipe S (ambos do Mombojó) e Rodrigo Sanches, além das participações do pianista Vitor Araújo, membros do Móveis Coloniais de Acajú, o percussionista Homero Basilio, China e o já mencionado Guizado, o quarteto de garotos (todos na faixa dos 20 anos) fazem de sua estreia um trabalho digno de grupos adultos. Um disco silencioso, mas que sabe como falar em alto e bom tom.

A Banda de Joseph Tourton (2010, Indepentente)

 

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Burro Morto, Macaco Bong e Guizado
Ouça: 100m

 

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.