Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 18/07/2011

Curumin
Brazilian/Samba/Funk
http://www.myspace.com/curumin

Por: Cleber Facchi

Antes de alcançar a maturidade com o lançamento de seu segundo trabalho de estúdio, o suingado Japan Pop Show de 2008, Luciano Nakata Albuquerque, o Curumin faria de seu primeiro álbum um pequeno, porém peculiar ensaio. Diferente de outros artistas que levam décadas de preparação e lançamentos intermináveis de discos até alcançarem uma produção impecável, o paulistano logo em sua estreia, Achados e Perdidos (2003, YB Music) transparece toda sua multiplicidade rítmica e sua habilidade na arte de fazer música, fazendo de seu debut um reduto de pura brasilidade e ginga.

Quando ecoam os primeiros acordes da faixa de abertura do álbum, Guerreiro, todas as diretrizes que delimitam o restante do trabalho tornam-se evidentes a partir de então. Uma guitarra calorosa toma conta do ambiente, lentamente se entrelaçando com uma percussão construída para fazer dançar, elemento que movimenta o corpo de versos que ressaltam um cotidiano entusiasmado e festivo. Caloroso, Curumin monta um tipo de estratégia em que é impossível se esquivar, um terreno que dialoga com o samba, funk, soul e rock de maneira despojada e quente.

Para além do apanhado de ritmos brasileiros que definiriam os rumos do trabalho, o músico se cerca de uma pequena variedade de referências vindas de distantes continentes, mesmo que de maneira mínima ou quase imperceptível. Cruzando elementos vindos da cultura oriental e africana – isso sem jamais esquecer dos sons nacionais – o músico dá formas ao que se traduz em Samba Japa, Curokurombo e demais composições ao longo do álbum, montando ao longo do álbum um verdadeiro quebra-cabeça de distintos sons e ritmos.

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Nada tradicional, em cada faixa exaltada ao longo do disco o músico concentra uma densa variedade de diferentes temáticas. Na instrumental Índio Dança na Roda, por exemplo, o que começa como uma composição levemente jazzística e minimalista logo conta com um acréscimo essencial de sonorizações voltadas à soul music, um pequeno toque de sintetizadores climáticos, além de um variado uso de samplers, tornando a composição o mais diversificada possível, definindo como inúmeras as possibilidades ressaltadas ao longo de cada faixas.

Assim como em sua instrumentação o trabalho segue por uma lógica sempre plural e que bebe de distintas fontes, em seus versos isso não é diferente. Seja através de trechos que ressaltem a temática do cotidiano, como em Guerreiro (“Pelas janelas vejo sombras nas esquinas/ Vejo a vida indo e vindo, eu vô na ginga/ Saio de lado ao lado passo pela rua”), ou pequenas amenidades amorosas em Vem Menina (“Não faz assim comigo não/ Ela zomba de verdade/ Só com a alma e o coração”), Curumin brilha pelo seu sempre variado jogo de palavras.

Mesmo que seja um registro visivelmente menor que seu sucessor, Achados e Perdidos serviu como  uma espécie de cartão de visita para Curumin. Foi a partir do registro que o músico passou a circular ativamente na produção ou em colaborações com outros artistas da música brasileira, sendo inclusive convidado a se apresentar ativamente tanto no Brasil quando em outros países. Um trabalho que honra seu título e realmente encontra o que estava perdido: o ritmo e a espontaneidade da música brasileira.

Achados e Perdidos (2003, YB Music)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Lucas Santtana, Fino Coletivo e Wado
Ouça: Guerreiro e Cade o Mocotó?

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.