Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 23/07/2011

Léo Cavalcanti
Brazilian/Alternative/Experimental
http://www.leocavalcanti.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

O ano era 2008. Um desconhecido paulistano lançava através de uma simplista demo quatro composições, faixas que mantinham a mesma efervescência dos bons tempos da MPB, mas trabalhadas dentro de uma sonoridade nova, jovial e criativa. Dois anos mais tarde, o mesmo cantor e compositor que deu vida àquelas quatro singelas composições retomava suas atividades através de um novo e ampliado disco, dando exata continuidade de onde havia parado, porém, agora cercado de uma instrumentação e um entusiasmo ainda mais vastos.

O paulistano em questão era o jovem Léo Cavalcanti, músico que em 2008 fez do delicado álbum Ao Leo sua simples, porém agradável estreia, apresentando ao público quatro composições do mais puro entusiasmo, músicas que pareceriam meros e simplórios rabiscos perto da grandeza de seu trabalho seguinte, o definitivo Religar (2010, DeleDela). Filho do cantor, compositor e cineasta Péricles Cavalcanti, Léo vai para além das composições apresentadas pelo pai ou de qualquer outro representante da velha MPB, gerando um registro criativo e de pura originalidade.

Através de seu timbre peculiar, o cantor transita por décadas de música brasileira (e internacional) sem em nenhum momento se fixar em um ponto único, mantendo a condução de seu trabalho de forma sempre frenética, instável e capaz de surpreender o ouvinte em cada novo estrofe, acorde ou mínimo detalhe apresentado. Violinos, guitarras, bandolins, castanholas, violoncelos, percussão, transições detalhadas pela música eletrônica e todo um vasto aparato de instrumentos e experimentos que tornam sempre vasta e grandiosa a obra do músico.

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Embora transite por inúmeras referências sem jamais se fixar em um único ponto específico, ao longo do disco a percussão parece se manter como o objeto central da obra de Cavalcanti. Desde muito novo acompanhando o pai como percussionista em suas apresentações, Léo usa de sua afinidade com tais elementos para dar formas ao seu álbum, utilizando dos instrumentos percussivos para construir toda a base do trabalho, algo que se faz visível da faixa de abertura, Ouvidos ao Mistério, até o fechamento do álbum, com a controlada Medo de Olhar Pra Si.

Para dar vida ao seu vasto trabalho, o paulistano foi atrás de dois conterrâneos, para que juntos trouxessem maior destaque ao já grandioso disco. Em Sem (Des)Esperar, a mais do que excelente Tulipa Ruiz empresta seus doces vocais, esbarrando seus versos nos versos de Cavalcanti, proporcionando um delicioso dueto. Contudo é ao lado de Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico) através da faixa Chuvarada que o álbum se engrandece de fato. Os dois cantores duelam em ritmo de tourada, utilizando de seus versos como armas, transformando a canção em uma das mais intensas do trabalho.

Construído ao longo de nove meses e lançado ao final de 2010, Religar surge como um grande fecho para uma série de composições que coroaram no decorrer do mesmo ano. Entre nomes como Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Cérebro Eletrônico e Karina Buhr, o músico cumpre exatamente o que anuncia no título de sua obra, religando a MPB em sua melhor forma, agora transformada em algo novo, ainda mais plural e carregada de ineditismos.

 

Religar (2010, DeleDela)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz e Cérebro Eletrônico
Ouça: Ouvidos ao Mistério

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.