Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 29/07/2011

Gal Costa
Brazilian/MPB/Female Vocalists
http://www.galcosta.com.br/

Por: Cleber Facchi

Passear pela vasta discografia brasileira sem nunca ter se encontrado com algum trabalho de Gal Costa é o mesmo que desprezar parte fundamental da nossa música. Em quase 50 anos de carreira, a cantora baiana deu voz a alguns dos trabalhos mais grandiosos já lançados em solo tupiniquim, boa parte deles situados entre as décadas de 60 e 70, registros clássicos como Fa-Tal de 1971 ou seu disco homônimo de 1969. Entretanto, os grandes trabalhos da cantora estavam situados em sua quase totalidade em tempos remotos, com a cantora raramente surgindo com algum álbum de pura relevância.

Foi após um encontro com o pianista César Camargo Mariano através de um show montado em homenagem ao músico Tom Jobim, que a dupla – ambos já haviam se encontrado musicalmente em uma parceria através do disco Baby Gal, de 1983 – resolveu desenvolver um novo álbum. Desse encontro entre essas duas entidades da música brasileira nasceu em 2005 o disco Hoje (Trama), um registro que quebrava os anos de redundâncias e composições pouco inventivas que há tempos tomavam conta da carreira da baiana.

Climático, o álbum traz como seu primeiro grande acerto a busca de Gal Costa apenas por compositores da nova geração, músicos que definiriam a famigerada Nova MPB. Através de um apanhado que envolvia mais de 200 composições, quase todas inéditas, Costa se concentrou em apenas 14 composições, músicas que delimitaram seu recente álbum e trouxeram ao público uma gama de novos letristas, gente como Moreno Veloso, Junio Barreto, Moisés Santana, Tito Bahiense, Péri, Hilton Raw e Nuno Ramos.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Rn-zcgW5VFw]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=XI88TgymAnM&feature=related]

Além do toque de jovialidade que se evidenciava através das letras exaltadas pelas canções, a dupla Costa e Mariano cercou-se de uma série de jovens músicos, indivíduos na casa dos 20 anos e que trouxeram certo frescor ao instrumental do álbum. O resultado desse encontro de diferentes gerações manifesta dentro do disco uma sonoridade de pura vastidão, que mesmo trabalhada dentro de moldes suaves cresce visivelmente por conta da limpidez e da trama de novas possibilidades acústicas anunciadas por seus músicos.

De maneira tranquila, Gal derrama seus vocais ao longo das brandas composições, sendo constantemente acompanhada por referências que vão da música africana aos sons regionais captados da música brasileira. Surgem assim verdadeiros achados como Santana (presente de Junio Barreto), faixa tomada por uma aura religiosa, a atmosférica Mar e Sol, ou a suave Voyeur, todas canções de igual beleza, faixas que em nenhum momento ficam atrás do que a cantora proclamava em seus anteriores e clássicos trabalhos de estúdio.

Lançado na véspera em que a cantora comemoraria 60 anos de idade, Hoje revela de certa forma o estado de espírito da baiana naquele momento, apresentando um composto de sensações melancólicas, algumas pequenas angústias, momentos de pura intimidade e alguns toques de satisfação. O álbum em nada revoluciona a vasta discografia da cantora, entretanto tira Gal Costa da maré de composições monótonas que há tempos a acompanhavam, fazendo com que ela reviva, mesmo de forma suave seus grandes momentos como uma das maiores vozes do país.

Hoje (2005, Trama)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Maria Bethânia, Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto
Ouça: Santana e Sol e Mar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.