Disco: “Berlim, Texas”, Thiago Pethit

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2011

Thiago Pethit
Brazilian/Indie/Folk
http://www.myspace.com/lepethitprince

Por: Cleber Facchi

Transformar dor e sofrimento em música, esta parece ser a premissa básica do cantor e compositor paulistano Thiago Pethit em seu trabalho de estreia, o doloroso Berlim, Texas (2010, Tratore). Meticulosamente projetado através de arranjos moderados de cordas e uma aura capaz de nos transportar tanto para um cabaré francês dos anos 20 como para o quarto de um adolescente nos dias atuais, o álbum, mesmo simplista sabe como dialogar de forma intimista e graciosa com seu ouvinte.

Quem esperava que ao lançar seu primeiro álbum Pethit repetisse as mesmas experiências sonoras de seus anteriores singles e EPs – sempre aproximando o ouvinte das sonoridades vindas dos povos Balcãs no melhor estilo Beirut, ou quem sabe dentro dos limites intimistas da música indie/lo-fi dos anos 90 – acabou se surpreendendo com a pequena gama de novas possibilidades apresentadas pelo jovem músico. Para além de soar como um Elliot Smith dos dias atuais ou se perder em similaridades da música vinda do leste europeu, Pethit conseguiu trazer identidade ao seu disco.

Sempre próximo do ouvinte (como se estivesse se apresentando ao seu lado) e acompanhado de uma musicalidade reducionista, o músico encontra em sua estreia um caminho que lentamente se fragmenta em vários outros, acrescentando ao delicado registro, uma soma enorme de novas possibilidades instrumentais e rítmicas. Surgem assim pequenas passagens pela música francesa, uma maior proximidade com a bossa nova, muitas doses do folk norte-americano e um fino tempero de melancolia que serve para unir todas essas referências.

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Embora transpareça o tempo todo a figura de um músico solitário, como se passeasse ao longo do álbum acompanhado apenas de seu violão, Pethit não está de fato sozinho na construção do disco. Seja pelo coro de vozes formado pelos amigos Tiê, Tatá Aeroplano, Tulipa Ruiz e Dudu Tsuda em White Hat, os vocais do parceiro Hélio Flanders (Vanguart) em Forasteiro ou mesmo as presenças dos músicos Marcelo Jeneci, Régis Damasceno e Maurício Fleury na instrumentação de algumas canções, Berlim, Texas transparece muito mais a ideia de coletivo do que de unidade.

Ao mesmo tempo em que abre a possibilidade de revisitar algumas de suas antigas composições, como a delicada Birdhouse ou Fuga Nº 1 com seu seu detalhado arranjos instrumental, Pethit sustenta grande parte do álbum em seu ineditismo, entregando ao público uma pequena coleção de novas pérolas do sofrimento musical. Há todo momento pintam faixas como Mapa-Múndi, Nightwalker e Forasteiro, músicas que presenteiam o público com um apanhado de sonorizações acústicas, englobando desde o uso de xilofones ao apurado jogo de pianos obscuros.

Mesmo que a atmosfera do álbum apresente uma sonoridade e uma condução suave e sempre controlada, a produção acertada de Yury Kalil (membro do Cidadão Instigado) faz com que o pequeno registro cresça em sua execução, tanto pelo vasto apanhado instrumental que compõem a delicada obra, quanto pelas letras intimistas de Pethit, que parecem o tempo todo se encaixar em algum acontecimento doloroso da vida do próprio ouvinte.

Berlim, Texas (2010, Tratore)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Tiê, Marcelo Camelo e Lulina
Ouça: Fuga Nº1 e Mapa-Múndi

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.