Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 04/02/2011

Mopho
Brazilian/Psychedelic/Alternative
http://www.myspace.com/mophobrasil

Por: Cleber Facchi

Se considerarmos o álbum Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets (1972), a derradeira incursão do grupo pelo campo da música psicodélica como o último trabalho mais importante do gênero, passariam várias décadas até que um disco viesse carregado pela mesma inspiração que deu vida às esquisitices do trio paulista. O trabalho em questão viria 28 anos mais tarde e das longínquas terras de Maceió, com a estreia da banda Mopho.

Tudo bem que nesses vários anos de ausência de um grande grupo de rock psicodélico não faltaram artistas que se aventuraram por esse campo. Um exemplo é o gaúcho Júpiter Maçã, que em 1997 lançou o ótimo Um Lugar do Caralho, porém nada ia além disso. O restante era apenas um bando de grupos repetitivos e que faziam um som completamente chupado e ausente de inspiração. Portanto a estreia dos alagoanos João Paulo (guitarra e voz), Hélio Pisca (bateria e pandeirola), Junior Bocão (baixo e voz) e Leonardo (teclado e voz) no início dos anos 2000 foi mais do que importante.

O álbum homônimo buscava referências claras no rock dos anos 60, não apenas dos Mutantes, mas de todas as inventivas bandas que despontaram naquele período, como The Beatles, The Zombies, Beach Boys e demais artistas que fizeram acontecer. A diferença é que o som proposto pelo grupo em nenhum momento se resumia a uma mera cópia, pelo contrário, a sonoridade vinha revigorada, repleta de entusiasmo e sempre embalado por toques visíveis de brasilidade.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Fq_15BjmrB8]

Antes de qualquer julgamento sobre o álbum ou de analisá-lo é preciso entender que a estreia do Mopho se mostra como um exercício profundamente corajoso. Veio de um ponto completamente alheio ao eixo Rio-São Paulo, num período em que os festivais de música independente ainda davam seus primeiros passos, sendo que a banda trazia como foco um estilo musical que há tempos estava abandonado, tanto pelas gravadoras como pelo público. Eram nada mais do que quatro malucos que se aventuravam através de um cenário inóspito e que não contava com recursos como a internet para se promoverem.

De fato foi a mesma internet que fez com que anos mais tarde o grupo fosse redescoberto por uma geração que tinha total desconhecimento sobre eles. O efeito tardio do debut da banda Mopho foi tanto, que em 2010 quando começaram a pipocar as listas de melhores álbuns nacionais da década, lá estavam os alagoanos figurando entre os dez melhores, se não como o melhor álbum.

E não pra menos, apesar de todas as dificuldades o quarteto (que mais tarde acabou se dissolvendo) conseguiu destilar um trabalho delicado, em que mesmo com os arranjos sujos e a baixa qualidade da gravação vem recheado de solos de teclado virtuosos, viagens sonoras lisérgicas e excelentes letras. Não apenas o rock psicodélico acaba marcando presença. Referências à Secos e Molhados, por exemplo, podem ser ouvidas em todo o disco, além de uma clara aproximação com outros artistas do rock progressivo nacional da década de 70. A estreia do Mopho é o que de fato faz jus a essa sessão, um verdadeiro Pequeno Clássico Moderno.

Mopho (2000)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Os Mutantes, Secos e Molhados e Garotas Suecas
Ouça: Não Mande Flores

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.