Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 04/08/2011

Nação Zumbi
Brazilian/Manguebeat/Alternative Rock
http://www.nacaozumbi.com.br/

Por: Cleber Facchi

Por mais que a Nação Zumbi não fosse um fruto único da mente e das experimentações de Chico Science, a morte precoce do músico e agitador cultural em fevereiro de 1997 trouxe sérias dúvidas sobre a continuidade do grupo recifense precursor do movimento manguebeat. Após o lançamento do disco CSNZ em 1998 – uma grande compilação lançada pouco após a morte de Chico e que funcionava como uma espécie de homenagem da banda ao cantor – estava mais do que na hora dos membros restantes do grupo seguirem em frente através de seus próprios méritos.

Jorge Du Peixe que até então era um dos percussionista do grupo deixou de lado as alfaias para assumir a totalidade dos vocais da banda, sendo ele também um dos responsáveis pela construção dos novos versos que seriam apresentados pelos pernambucanos em seu novo trabalho, Rádio S.Amb.A. Lançado em meados de 2000, além das desconfianças do público e da crítica, o disco apresentava os recifenses longe de sua antiga gravadora (a banda deixou a Sony Music e partiu para a YB Music), além de propor um tipo de som muito mais pesado e urbano através do novo álbum.

As letras e o som cruzando referências naturais e sintéticas, o regional com o urbano e o futuro com o presente ainda estavam lá por todo o disco. Do Mote do Doutor Charles Zambohead/Azougue, faixa que inaugura o disco em nada se diferencia dos anteriores trabalhos da banda, proporcionando uma composição inundada pelo mesmo ritmo suingado e pela mesma percussão estrondosa que trouxe destaque ao grupo de Recife. Entretanto, à medida que o disco vai se desenvolvendo as mudanças passam a se revelar de forma latente.

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Enquanto os clássicos Da lama ao caos (1994) e Afrociberdelia (1996) mantinham dentro de sua vasta mistura de gêneros uma constante busca por um som nacional e orgânico, em Rádio S.Amb.A o grupo se deixa conduzir por experiências puramente sintéticas e tomadas de referências eletrônicas. Em O Caranguejo da Praia das Virtudes (Madame Satã), por exemplo, a banda flerta com o rock industrial, algo que se intensifica em Jornal da Morte, faixa que destaca as guitarras de Lúcio Maia de forma agressiva e invadidas por efeitos eletrônicos.

Mesmo que o álbum surja da visível necessidade de seus integrantes em intensificar o peso de suas composições, Rádio S.Amb.A é um registro de pura experimentação, como se a banda ainda estivesse em busca de uma sonoridade para chamar de sua nessa nova empreitada musical. Canções como Zumbi X Zulu e Del Chifre’s Beach no fechamento do disco traduzem isso, com os pernambucanos construindo faixas tomadas de novidade, cercando-se de diversos experimentos eletrônicos, doses suaves de reggae e uma liberdade criativa que não havia anteriormente.

Rádio S.Amb.A surge como um forçado corte no cordão umbilical que liga a Nação Zumbi da década de 1990 e novo grupo que tomava formas a partir dos anos 2000. Versos novos, um ritmo novo e a busca constante por uma sonoridade própria é o que se evidencia no desenrolar de todo o trabalho, algo que talvez soasse confuso na época do lançamento do novo disco, mas que seria melhor compreendido futuramente quando os demais trabalhos do grupo fossem lançados. Independente das mudanças, o título de melhor banda brasileira ainda seria deles.

Rádio S.Amb.A (2000, YB Music)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Maquinado, Mundo Livre S/A, Otto
Ouça: Quando a Maré Encher

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.