Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2011

The Microphones
Indie/Lo-Fi/Experimental
http://www.myspace.com/elverumandsun

Por: Cleber Facchi

A partir da segunda metade da década de 1990, Phil Elvrum tornou-se responsável por uma variedade de lançamentos caseiros, que assim como os dois álbuns do Neutral Milk Hotel se transformariam em grandes marcos da música independente norte-americana. Contudo foi só a partir da chegada do novo século que o músico pareceu ter encontrado a medida exata entre suas composições intimistas e a ambientação acústica que projetava através de suas criações, algo que teria seu ápice com a chegada do delicado e também grandioso The Glow Pt. 2 (2001, K Records).

Muito embora Elvrum já tivesse estabelecido um bom resultado em setembro de 2000, a partir do lançamento de seu sexto registro “em estúdio”, It Was Hot, We Stayed in the Water foi só com a chegada de seu sétimo trabalho que o cantor e compositor foi capaz de amarrar tanto suas experimentações (algo bem perceptível em seus primeiros registros) quanto a fluidez amena de suas recentes composições. Esse encontro entre distintas vertentes resulta em um álbum capaz de dialogar ao mesmo tempo com aqueles que buscavam pela música folk intimista no melhor estilo Eliott Smith, quanto por quem buscava o mesmo nível de demência reforçado por Daniel Johnston.

Imenso –  o álbum conta com 20 faixas e mais de 60 minutos de duração – The Glow Pt. 2 se divide claramente em dois grupos de canções. De um lado estão músicas convencionais, canções desenvolvidas a partir de uma sonoridade pouco exaltada e até simplista. Fazem parte desse grupo músicas como You’ll Be in the Air, I Am Bored e a popular The Moon, todas canções desenvolvidas a partir de acordes simplistas de violão e parcas transições elétricas, mantendo o tempo todo a busca por uma som atmosférico e suave.

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Como parte deste segundo grupo surgem faixas tomadas de experimentos, ruídos e recortes instrumentais diversos, músicas como The Mansion, que mesmo exposta em moldes climáticos se desenvolve a partir da estranha sobreposição de violões, permitindo que um aspecto rebuscado tome conta do disco. Já outras como Instrumental 2 parecem se guiar de forma totalmente improvisada, enquanto outras como Samurai Sword quebram totalmente a lógica pacata do álbum, surpreendendo o ouvinte com um tipo de som tomado de guitarras distorcidas e uma tonalidade completamente oposta ao apresentado até o presente momento.

Embora o aspecto caseiro e a constante quebra ocasionada entre cada nova composição, Elvrum faz com que ao longo do trabalho o álbum ganhe um caráter de unidade, como se cada faixa fosse parte essencial do registro e se posicionasse de forma irretocável em seu decorrer. Tanto em  It Was Hot, We Stayed in the Water, como em Testes (1998) e Don’t Wake Me Up (1999), anteriores trabalhos do músico, todas as faixas que se encontram nos álbuns pareciam frutos de diferentes gravações ou diferentes momentos da vida de seu criador, algo que não se encontra em The Glow Pt. 2 com todas as canções transparecendo um caráter de proximidade.

Mesmo aclamado pela crítica The Glow Pt. 2 foi o último trabalho do músico através do The Microphones, nome que ele abandonou em prol de seu novo projeto, o também excelente Mount Eerie. Embora seja poucas vezes citado – o álbum acabou de certa forma prejudicado por ter sido lançado na mesma época em que os Strokes estreavam com Is This It e Jay-Z apresentava ao público sua obra-prima, The Blueprint -, o sétimo trabalho de Phil Elvrum é ainda hoje um dos registro mais influentes já lançados em solo americano, servindo de base tanto para propagadores da música folk como Woods, Julian Lynch e Akron/Family, quanto para nomes como Animal Collective e The Books. Um disco clássico do principio ao fim.

The Glow Pt. 2 (2001, K Records)

Nota: 9.5
Para quem gosta de: Mount Eerie, Neutral Milk Hotel e Daniel Johnston
Ouça: O álbum todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.