Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 15/08/2011

The Unicorns
Canadian/Indie/Lo-Fi
2000 – 2004

Por: Cleber Facchi

Who Will Cut Our Hair When We’re Gone? Foi ao fazer essa pergunta que em outubro de 2003 três jovens músicos de Montreal, Canadá transformaram seu “terceiro” disco em um dos lançamentos mais importantes daquele ano, um registro que fez gente como Jay-Z e The Strokes comerem poeira em termos de criatividade. Inspirados nos grandes representantes do rock lo-fi dos anos 90, Nick “Neil” Diamonds, Alden Ginger e J’aime Tambeur, ocultos sob o nome de The Unicorns transformaram seu então recente disco em um trabalho doce, excêntrico, sujo e despretensiosamente divertido.

Não há qualquer tipo de novidade ou revolução naquilo que o trio norte-americano apresenta no decorrer dos 40:59 minutos que compõem a ensolarada obra lançada pela Alien 8 Records. Por todos os lados estão referências que de uma forma ou outra levam o ouvinte ao clássico Lonesome Crowded West do Modest Mouse, Perfect From Now On do Built To Spill, os primeiros álbuns do Of Montreal e até o recente Glow, Pt. 2 do The Microphones, isso sem contar na dose extra de esquizofrenia que só poderia ser fruto de incontáveis audições dos caseiros trabalhos de Daniel Jhonston.

Contudo, ao contrário do que o disco poderia soar, com a banda apresentando uma grande e descarada cópia musical, o trio canadense fez do álbum um colossal depósito de composições genuínas, faixas que mesmo próximas de uma série de outros lançamentos soavam como novas, músicas carregadas de frescor e puro ineditismo. As inspirações e todas as influências do grupo ainda estavam lá, nas bases ou mesmo nas letras de cada uma das canções, mas por fora eram (e são) faixas ainda novas, reais criações dos três unicórnios.

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Por mais que o nome da banda transpareça a imagem de um grupo que busque por um som doce, suave e delicado (o que em vários momentos o trio faz questão de desenvolver), em suas composições é o uso de guitarras sujas e uma instrumentação nada açucarada que acaba predominando. Muito mais pelos precários estúdios e métodos de captação do que por escolha da banda em si, muitas das faixas surgem temperadas por uma dose extra de reverberações sujas, o que ajuda a aproximar a banda de suas grandes referências e algo que acaba trazendo certa identidade ao som dos canadenses.

Se instrumentalmente a banda se destaca de forma memorável, em sua letras o destaque é ainda maior. Nonsenses ao extremo, o trio deixa escorrer faixas carregadas de analogias como I Was Born (A Unicorn) e Ghost Mountain, além de momentos de pura excentricidade e perca da realidade como Jellybones, música que de maneira bem humorada conta a história de um homem que vai parar no hospital por ter seus ossos transformados em geléia. A forma como o trio entoa seus versos,  ora gritados, ora falados, mas sempre de forma instável auxilia na boa projeção das faixas e de seu aspecto estranho.

Intensamente elogiado em seu lançamento – o registro alcançou notas altíssimas em grande parte das publicações que analisaram o disco -, WWCOHWWG seria o último registro em estúdio lançado pelo The Unicorns. As excessivas apresentações da banda e certas divergências entre os integrantes levaram o grupo a encerrar suas atividades em dezembro de 2004, o que obviamente deixou uma grande lacuna no indie rock canadense, mas que posteriormente resultou em uma série de bons grupos, dissidências formadas pelos ex-integrantes do grupo, entretanto, nenhuma delas seria capaz de superar a excelência alcançada pelo The Unicorns.

 

Who Will Cut Our Hair When We’re Gone? (2003, Alien 8 Records)

 

Nota: 9.5
Para quem gosta de: Islands, Of Montreal e The Microphones
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.