Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2011

Broken Social Scene
Canadian/Indie/Alternative
http://www.brokensocialscene.ca/

Por: Cleber Facchi

Certos álbuns não são simplesmente um belo registro musical, ou um grande concentrado de boas composições, mas sim verdadeiros eventos no mundo da música. De tempos em tempos (normalmente em cada dez anos) algum disco se manifesta como um grande tratado instrumental, um projeto de alcances ilimitados e proporções que talvez só sejam compreendidas anos após seu lançamento. Felizmente isso não foi necessário ao coletivo canadense Broken Social Scene ao lançar ao mundo o surpreendente You Forgot It in People (2002, Arts & Crafts), um dos maiores registros da década passada, quiçá o melhore representante do indie rock lançado naquele período.

Por mais que seja fácil retratar o disco como um projeto de 13 faixas e um agrupado com quase uma hora de duração, isso sem contar no vasto número de participantes que ajudaram a orquestrar o registro – são mais de 15 músicos que trabalharam na construção do álbum – definir o delicado projeto em números é simplesmente abandonar toda a real beleza que se esconde através de suas meticulosas projeções instrumentais. Mais do que um trabalho arquitetado para ser ouvido atentamente, o segundo álbum do grupo de Toronto é um registro feito para ser sentido.

Assim como são incontáveis as referências que circundavam as mentes de seus realizadores na época em que o disco foi montado, distintos são os rumos que ele percorre desde que Capture the Flag, a primeira faixa do álbum tem início. Por mais que o trabalho caia constantemente nos rótulos seguros do “indie rock” ou “rock alternativo”, definir o épico registro do BSS dentro de apenas duas categorias é desmoralizar a sobrecarga de referências e diferentes gêneros musicais que parecem se abrigar em seu interior.

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Embora aponta para vários rumos em seu desenvolvimento, como se a banda fosse capaz de percorrer quase quatro ou cinco décadas de música em pouco menos de uma hora de duração do álbum, todas as composições se mantém constantemente próximas, mesmo que cada uma delas seja capaz de desenvolver um tipo de som completamente distinto daquele apresentado por suas canções “irmãs”. Embora sejam vários aqueles que mereçam os elogios pelo volumoso registro é o produtor David Newfeld aquele que de fato merece as honrarias, afinal é ele o responsável por manter unidas as mentes de todos os integrantes (que não eram poucos) que desenvolveram o projeto.

Shoegaze, música clássica, pós-punk, baroque pop, Indie Rock, Rock alternativo, Dream Pop, doses de noise e experimentações diversas, por todos os cantos do trabalho eclodem novas fontes instrumentais, todas perfeitamente alinhadas e se manifestando somente em momentos de pura exatidão, mais uma prova da perfeita sintonia que é exercida sobre o disco. Mesmo que soe como um trabalho essencialmente maduro e conceitual em grande parte do tempo, sobra espaço para que faixas aos moldes de KC Accidental, Almost Crimes e Cause = Time possam se manifestar, quebrando o disco com uma dose de pop e instrumentações puramente voltadas ao grande público.

Por mais que nos trabalhos seguintes os canadenses seguissem através de uma sonoridade e um ritmo muito próximo deste disco, o resultado não seria mais o mesmo. Boa parte dos integrantes da banda partiriam em busca de novos projetos – dos membros do coletivo nasceriam grupos como Metric, Stars ou mesmo a carreira solo da cantora Feist –, o que de certa forma prejudicaria (e muito) o bom rendimento das seguintes composições do BSS, algo até justificável, afinal superar You Forgot It in People seria uma tarefa praticamente impossível

 

You Forgot It In People (2002, Arts & Crafts)

 

Nota: 9.5
Para quem gosta de: Stars, Jason Collett e Wolf Parade
Ouça: Almost Crimes

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.