Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 19/08/2011

LCD Soundsystem
Electronic/Dance/Alternative
2001 – 2011

Por: Cleber Facchi

Por mais que ao longo dos anos 2000 uma centena de trabalhos voltados para a música eletrônica tenham de uma forma ou outra revolucionado o cenário musical, poucos conseguiram causar tamanha revolução quanto Sound Of Silver (2007, DFA Rercords), segundo álbum do produtor norte-americano James Murphy à frente do LCD Soundsystem. Grandioso em suas proporções e em suas referências, o registro percorre desde os primórdios da Dance Punk até a explosão da House Music, se revelando como um dos álbuns mais completos e influentes em todos os âmbitos da música contemporânea.

Se ao lançar o primeiro e homônimo trabalho através do LCD Soundystem em meados de 2005, Murphy já havia chamado a atenção dos ávidos pela música eletrônica por conta de seu inusitado cruzamento de diferentes estilos de som, em seu segundo disco todos os mesmos elementos se fazem presentes, porém muito melhor desenvolvidos, amarrados e diluídos. Os toques de rock anda estão lá, assim que as referências ao acid house, pós-punk, dance e até psicodelia em alguns bons momentos, com o produtor mantendo a eletrônica tradicional como seu grande ponto de convergência.

Diferente do primeiro álbum, em que Murphy parecia montar um grande catálogo de faixas, reunindo composições anteriormente lançadas como singles ou apresentadas nas coletâneas que ele próprio lançava através da DFA Records (sua gravadora), em Sound Of Silver há um caráter de aproximação entre as músicas, como se todas fizessem parte de uma grande viagem lisérgica e eletrônica. Exalando alucinações por todos os cantos, o disco parece ter nascido de alguma série de abusos de seu idealizador, mesclando beats, anfetaminas, pó e synths presos em loopings extasiantes.

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Por mais que soe como um trabalho moldado para um público extremamente específico – a sutileza de músicas aos moldes de Someone Great quase transformam o disco em um projeto essencialmente hermético -, em diversos momentos o álbum se abre de forma acessível para qualquer grupo de ouvintes. Faixas como a épica All My Friends ou Us v Them fluem em uma complexidade extremamente radiofônica, como se fossem arquitetadas para atender as exigências do grande público. Entretanto, a grande beleza do disco se esconde em suas pequenas excentricidades e fugas das convenções acústicas.

Get Innocuous, canção que abre o disco traduz exatamente esse rompimento de Murphy com qualquer tipo de som que o trate como um artista tradicional. Com mais de sete minutos de duração (algo que se repete em outras faixas do disco), a música parte a house music em diversos fragmentos, realinhando o estilo através de uma colagem esvoaçada, lisérgica, mas capaz de manter constantemente os dois pés no chão (ou pelo menos um). Até ao apresentar a melancólica New York, I Love You but You’re Bringing Me Down, o produtor se desvencilha do básico, passeando por distintas vertentes instrumentais e se posicionando como uma espécie de crooner esquizofrênico.

Aclamado de forma unânime pela crítica mundial – que não tardou eu posicionar Murphy como o maior produtor de eletrônica da década -, Sound Of Silver é um trabalho singular em todos seus sentidos, sendo capaz de ecoar todas suas referências ao mesmo tempo que se apresenta como um registro original, único e genuíno. Embora seja possível analisar cada mínimo ruído projetado através do disco, ou encaixá-lo em diferentes seguimentos da música, o álbum parece bem mais compreensível quando apreciado, se consolidando como um álbum que parece crescer em cada nova audição.

Sound Of Silver (2007, DFA Records)

 

Nota: 9.8
Para quem gosta de: The Rapture, Cut Copy e Hot Chip
Ouça: O disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.