Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 20/08/2011

Dirty Projectors
Experimental/Indie/Freak Folk
http://www.myspace.com/dirtyprojectors

 

Por: Cleber Facchi

O ano de 2009 foi de todas as formas muito significante para a música alternativa. Enquanto o Animal Collective alcançava a maturidade com Merriweather Post Pavilion, os britânicos do The XX apresentavam ao mundo sua delicada estreia. Por outro lado o Phoenix trazia uma carga de novidade para a música pop, tudo isso enquanto o Girls despejava seus lamentos praieiros e o Grizzly Bear transformava sua sonoridade “estranha” em algo pop e comercial. No meio desse turbilhão de importantes novidades está o Dirty Projectors, transformando seu novo álbum em um registro de pura experimentação, beleza e esquizofrenia musical.

Mesmo para aqueles que acompanhassem a carreira do grupo desde seus vanguardistas primeiros discos, ouvir Bitte Orca (2009, Domino Records) deve ter sido uma grandiosa surpresa. A mistura de sons que transitavam pelo Freak Folk norte-americano, doses de soul music, afrobeat e toda uma sobrecarga de ruídos experimentais em nada se assemelhava ao que a banda nova-iorquina comandada por Dave Longstreth já havia elaborado. Incrivelmente belo e excêntrico, o álbum era de longe um novo e importante passo na carreira do grupo.

Por mais que na época de seu lançamento o disco soasse como um trabalho instrumental e conceitualmente inédito na carreira da banda – que em suas anteriores formações contou inclusive com membros do Vampire Weekend e diversos outros grupos do indie rock norte-americano -, dois anos antes do lançamento do complexo álbum a banda já havia estabelecido todas as estratégias que viriam a ser estabelecidas futuramente. A partir do disco Rise Above de 2007, o Dirty Projectors conseguiu quebrar seus antigos rumos, se aproximando de uma sonoridade melhore delimitada e que viria a caracterizar o som do grupo.

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Bitte Orca é ao mesmo tempo um trabalho que ecoa um som único e diversificado na mesma medida, como se fossem vários álbuns em apenas um. Embora composto de apenas nove faixas, o disco estranhamente repassa a estranha sensação de que estamos na verdade nos encontrando com toda uma coleção de músicas. Talvez até seja isso mesmo, afinal, por todos os cantos do disco estão escondidas algumas referências dos anteriores trabalhos da banda. Até a capa do registro aponta isso, com as duas vocalistas da banda, Amber Coffman e Angel Deradoorian, representando a mesma imagem que ilustrava o disco Slaves Graves and Ballads de 2004.

Embora capaz de reproduzir um som consistente, onde todas as músicas parecem fluir em extrema harmonia e sobriedade, cada faixa lançada a partir do registro se parte em incontáveis pedaços, como se o disco mudasse seus rumos em cada segundo. Enquanto Stillness Is the Move, por exemplo, vai buscar suas referências na cultura africana ao mesmo tempo em que brinca com a soul music de forma peculiar, Two Doves, faixa seguinte surpreende por se transformar em um belo achado folk, com a banda involuntariamente se aproximando das suavidades da bossa nova, pendendo em alguns momentos para o que fora enaltecido por Björk em seus momentos mais orgânicos.

Mesmo que seja possível classificar o disco em algum gênero, encontrar reflexos da World Music da década de 1980 ou visualizá-lo como um típico produtor da música experimental norte-americana, Bitte Orca parece ser dono de um som apenas seu, impossível de ser copiado ou reproduzido por alguém que não esteja inserido no Dirty Projectors. Um álbum que não apenas soa novo em cada nova audição, mas se modifica em cada faixa. Diversos discos dentro de apenas um, e um álbum que vale por toda uma discografia.

Bitte Orca (2009, Domino Records)

Nota: 9.3
Para quem gosta de: Vampire Weekend, Björk e Animal Collective
Ouça: Stillness Is the Move

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.