Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2011

Boards Of Canada
Scottish/Electronic/IDM
http://www.boardsofcanada.com/

Por: Cleber Facchi

Mesmo para aqueles que já acostumados ao mundo de texturas cacofônicas, bips minimalistas e ambientações lânguidas da IDM ou de outros subgêneros da música eletrônica, ao ouvir qualquer registro do Boards of Canada todas as sensações parecem renovadas, inéditas e surpreendentemente instigantes. Desde o final da década de 1980 se comprometendo com a criação de um som intimista e único, Mike Sandison e Marcus Eoin não poderiam deixar de pisar no novo século sem antes apresentar uma pequena mostra de sua superioridade como produtores, tanto que para fevereiro de 2002 o duo apresentou ao mundo o singular Geogaddi.

Donos de um público entusiasta e queridinhos de grande parte da imprensa (seja ela especializada ou não), a pressão que pairava sobre a dupla no começo dos anos 2000 era enorme, afinal, depois do resultado apresentado em seu glorioso debut, todos esperavam por um registro de mesmo porte e beleza. Embora viessem desde 1986 se apresentando em uma série de clubes europeus foi só em 1998 que o duo vindo de Edimburgo, Escócia conseguiu projetar seu primeiro registro em estúdio, o elogiado Music Has the Right to Children, um dos trabalhos que ao lado de Richard D. James Album do Aphex Twin e da discografia do Autechre ajudaram a delimitar o que seria compreendido como a Intelligent Dance Music (IDM) na década de 1990.

Diferente de outros trabalhos, mesmo projetos voltados aos sons experimentais ou de vanguarda, ao ouvir Boards of Canada, ou mais especificamente Geogaddi não é esperar por um momento de estalo ou compreensão imediata daquilo que é apresentado, em geral, leva-se tempo, um bom tempo até que cada mínima frequência do disco possa de maneira funcional ser absorvida e consequentemente compreendida. Sejam os singles ou os EPs lançados pela dupla, todas suas criações vêm dotadas de um tempo próprio, um tipo de registro em que é necessário deixar de lado as outras coisas e se entregar por completo em suas emanações.

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Por mais que trafegue pelas exatas mesmas vias do álbum que o precede, em seu segundo disco o BOC investe na criação de um som não dissolvido no uso de camadas e extenuantes colagens de sons, mas sim, na produção de um disco que parece concentrar seus esforços nas batidas e em emanações de texturas quentes. Enquanto em sua estreia a dupla projetava as composições de forma que elas se revelassem como registros herméticos, de maneira que as batidas e os sons emulados convergissem para dentro das canções, em seu segundo trabalho as composições da dupla soam distintas, como se expressas em contornos maiores e exposições atmosféricas menos tímidas ou frias.

Faixas como Alpha and Omega conseguem delimitar muito do que orienta o disco, cruzando uma percussão sintética com uma base instrumental que se manifesta de forma estável, não experimental e incrivelmente dançante. Assim como seu predecessor, Geogaddi é um disco fechado, cada uma das faixas ali presentes são parte essencial do trabalho e necessitam ser escutadas, mesmo sendo uma delicada vinheta (e são várias) ou mesmo uma composição mais extensa. O segredo dentro do álbum está em suas constantes audições, afinal, quanto mais desbravamos o disco, mais temos a noção de sua totalidade e consequentemente somos cada vez mais hipnotizados pelas projeções sintéticas de Sandison e Eoin.

Último grande registro da dupla na primeira década dos anos 2000 – embora o álbum seguinte The Campfire Headphase até consiga agradar, seu resultado não se equipara ao que é apresentado neste disco -, Geogaddi e o primeiro trabalho do duo serviriam poucos anos mais tarde como base para o que uma série de artistas da Chillwave viriam a desenvolver. Difícil e acessível na mesma medida, o álbum ainda hoje consegue manter a mesma peculiaridade e as sensações repassadas na época de seu lançamento, sendo capaz de comprometer aquilo que o ouvinte compreende como “música eletrônica” e apresentar todo um novo mundo de sensações.

Geogaddi (2002, Warp)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Autechre, Aphex Twin e Four Tet
Ouça: O disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.