Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 30/08/2011

The XX
British/Indie/Post-Punk
http://www.myspace.com/thexx

 

Por: Cleber Facchi


Em meio a tantos ruídos, trabalhos excepcionalmente rebuscados e estratégias musicais carregadas de excessos, um pequeno registro obscuro prezava pelo oposto, pelo “menos”. Enquanto uma montanha de álbuns e artistas cantavam alto e se cercavam de vibrações acústicas exorbitantes foi o silencio e a precisão do The XX que acabou prevalecendo. Quatro garotos que acabaram derrubando gigantescos paredões de som com sua música carregada de elementos posicionados de forma quase matemática, um mais do que necessário toque de sensualidade e um profundo flerte com a música minimalista.

Diferente de tantas outras bandas que lentamente vão pavimentando seu caminho até o lançamento de seu tão aguardado primeiro álbum – agregando fãs e criando expectativas -, quando XX o primeiro álbum do grupo inglês foi lançado em agosto de 2009 pouco ou quase nada havia sido dito sobre eles previamente. Foi como se o quarteto surgisse no meio do nada, com um disco em mãos, sendo capazes de paralisar qualquer indivíduo com seu tipo de som ao mesmo tempo hermético e significativamente amplo, o que obviamente serviu como uma luva para a imprensa (principalmente a britânica) que não tardou em posicionar o disco em uma espécie de altar sagrado.

Se por um lado o hype gerado em cima do álbum ajudou a difundir o trabalho do quarteto – que já vinha atuando desde 2005 -, por outro lado a excessiva presença do disco nos meios de comunicação serviu para ocultar muito do que realmente se escondia nas reverberações do delicado registro, um trabalho que necessitava de uma audição apurada, tempo e tranquilidade para que fosse aproveitado ao máximo. A presença abusiva do quarteto nos principais tabloides britânicos trouxe uma série de complicações aos seus integrantes, que resultou posteriormente na saída da tecladista Baria Qureshi (que saiu da banda alegando cansaço) e ao trio restante um mergulho em longas férias.

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Embora fosse visível a distinção e a beleza do registro na época de seu lançamento (ou pelo menos depois que o turbilhão gerado em cima dele finalmente se dissipou) é só agora que a real importância da estreia do The XX pode finalmente ser observada. Em um ano em que um bom número de artistas apresentaram ao mundo seus melhores trabalhos – Animal Collective com Merriweather Post Pavilion e Dirty Projectors com Bitte Orca apenas para ilustrar -, não restam dúvidas que a singularidade instrumental e poética da banda inglesa é o que a torna dona do trabalho mais original daquele ano.

Tudo aquilo que você encontrará ao longo do disco fica delimitado logo na faixa de introdução do álbum, apresentando batidas lânguidas, guitarras amarradas em um looping sensual e hipnótico, além de sobreposições constantes de sons que parecem beber tanto da soul music quanto do pós-punk britânico. XX é como um corpo nu, um registro em que é possível sentir cada mínima ondulação, forma ou textura enquanto suas reverberações vão lenta e deliciosamente acariciando nossos ouvidos. Um álbum que se abre pequeno e simples, mas aos poucos revela uma carga imensurável de referências e elementos que o transformam em algo grandioso e esplêndido.

Dividido em duas partes, em seus momentos iniciais o disco concentra suas composições mais acessíveis, faixas como VCR, Islands e Crystalised, composições que os fizeram circular em grande parte dos canais de música ou programas de rádio. Em sua segunda metade o disco investe com sons ainda mais atmosféricos, como os apresentados em Basic Space (que revela muito do que Jamie Smith viria a desenvolver posteriormente em carreira solo) e Night Time, composições essencialmente densas, tecnicamente mais difíceis, mas capazes de autorizar o grupo a percorrer diferentes caminhos, fazendo com que XX se revele como um disco de acertos, por todos os lados.

 

XX (2009, Young Turks)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Jamie XX, jj e Foals
Ouça: VCR

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.