Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2011

Arcade Fire
Canadian/Indie/Alternative
http://www.arcadefire.com/

Por: Cleber Facchi

Em agosto de 2010, quando boa parte dos aficionados por música pararam durante algumas horas para contemplar The Suburbs, terceiro trabalho de estúdio do coletivo canadense Arcade Fire, não foram poucos aqueles que apontaram e defenderam o grupo norte-americano que sendo o maior projeto musical daquela geração. Por mais que veteranos como Wilco e Radiohead tenham apresentado ao mundo seus melhores exemplares musicais dentro do mesmo período – respectivamente Yankee Hotel Foxtrot de 2002 e Kid-A em 2000 – é Funeral, estreia da banda canadense o trabalho que melhor representa o que foi toda a geração de bandas e artistas que explodiram a partir da chegada do novo século.

Por trás de um arranjo instrumental orquestrado – que inclui desde violinos, xilofones, harpas, pianos, órgãos, acordões, violoncelos e incontáveis outros instrumentos – e que se anuncia de forma intencionalmente dolorosa (e épica), um jovem Win Butler destila uma sequência de versos precisos, vivos e que pareciam se opor de forma madura aos refrões descompromissados que inundavam o cenário alternativo naquele momento. Soturno, mas longe de soar obscuro em demasia, o álbum segue como um grande cortejo fúnebre, embora em nenhum momento se revele de maneira pessimista ou tétrica.

Embora possa soar como um trabalho temático, que englobe o conceito da morte de forma intencional, a escolha pelo mórbido tema veio de forma natural e quase inesperada ao trabalho do grupo. Meses antes de pisarem em estúdio, boa parte dos integrantes da banda foram assolados pela perda de entes queridos – Butler perderia o avô, a avó de Régine Chassagne viria a falecer em idos de 2003, enquanto uma tia de Richard Reed Parry faleceria no mesmo período -, o que de forma inevitável acabou influenciando na produção do disco, que segue fazendo uso de versos e uma instrumentação completamente distinta daquilo que a banda veio a desenvolver em seu homônimo EP de 2003.

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Mesmo que a morte se manifeste em cada segundo do disco, Funeral passa longe de se materializar como um projeto sorumbático e capaz de desmotivar o ouvinte em sua execução. Pelo contrário, a morte aos olhos do Arcade Fire é observada de maneira quase otimista, com os versos das canções esbanjando uma atmosfera esperançosa e quase festiva em alguns momentos. Embora músicas aos moldes de Neighborhood #1 (Tunnels) e Crown of Love (essa com um foco maior no amor e na separação) sejam conduzidas de forma suave e dolorosa em sua totalidade, Butler pontua suas versos com um toque de esperança, como se ao final de todo o emaranhado de sensações dolorosas a vida prosseguisse e a banda se prontificasse a anunciar isso.

Enquanto boa parcela dos grupos que naquele momento construíam um som orquestral e calcado no Baroque Pop investiam em uma sonoridade delicada em excesso, o Arcade Fire, mesmo se valendo da mesma fórmula mobilizou sua produção em cima de algo diferenciado. Não apenas transições por uma música suave se fazem presentes no decorrer do álbum, que bebe de forma imoderada dos grandes representantes do rock de arena – algo que posteriormente se intensificaria nos demais trabalhos da banda -, fazendo com que a música proposta pelos canadenses ultrapasse o circuito e o público alternativo, acertando em cheio o grande público.

Catártico em toda sua duração, o registro transforma faixas delimitadas por uma musicalidade sombria e introspectiva em verdadeiros épicos, músicas como Wake Up e Rebellion (Lies), que atravessam o rock progressivo, bebem dos obscuros grupos dos anos 80, transitam pelo indie rock da década de 1990 e se revelam em seu estágio final de forma surpreendente, como se viessem acompanhadas literalmente de uma vasta bagagem musical. Elogiado e reconhecido pela crítica de forma unânime na época de seu lançamento, Funeral seria apenas o primeiro grande passo do Arcade Fire rumo sua conversão em uma das maiores, se não na maior banda dos últimos anos.

Funeral (2011, Marge)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: The Decemberists, Broken Social Scene e Fleet Foxes
Ouça: O disco todo.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.