Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2011

Sufjan Stevens
Indie/Folk/Singer-Songwriter
http://www.myspace.com/sufjanstevens

Por: Cleber Facchi

Mesmo diversas as palavras capazes de exemplificarem a beleza e a grandeza de um bom disco, nenhuma consegue traduzir de maneira eficaz toda a natureza estrondosa e ainda assim essencialmente delicada de Illinois, mais completo registro já arquitetado pelo cantor e compositor Sufjan Stevens. Épico tanto em sua extensão, como em sua proposta, o disco – uma grande homenagem ao estado de Illinois, nos Estados Unidos – vai aos poucos delimitando um vasto cenário musical, cruzando distintas temáticas instrumentais e poéticas em prol de um álbum que parece observar todos os aspectos do objeto que usa como sua fonte de inspiração.

Produzido, composto e arranjado em sua quase totalidade pela figura única de Stevens, o disco e suas 22 faixas – algumas delas apenas vinhetas – se propõem como uma evoluída continuação daquilo que o músico havia experimentado dois anos antes ao apresentar Michigan, o primeiro álbum da mítica série de 50 trabalhos pensados para homenagear todos os estados norte-americanos. Contando com mais de 70 minutos de duração, o registro cerca-se de uma instrumentação erudita, embora mantenha por meio de suas harmonias brandas e sua linguagem acessível uma funcionalidade que o afaste de um público demasiado específico, transformando-o não apenas em um trabalho volátil como (também) em um registro comercial.

Acompanhado por um vasto coro de vozes e uma pequena orquestra – a mesma que já vinha o auxiliando em seus anteriores lançamentos -, o músico faz com que o disco repasse a estranha sensação de movimento, como se cada uma das canções presentes no álbum fossem construídas em diferentes pontos do estado em questão – algo que de certo modo se concretizou na gravação do registro. É como se cada faixa ou segundo dentro do disco fosse responsável por tratar das características das diferentes cidades, seu povo e toda a história que constrói Illinois.

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Como resultado encontramos ao longo do disco um belo arsenal de composições memoráveis, faixas que exploram os mais peculiares aspectos e acontecimentos que ajudaram a construir o histórico do suntuoso estado que dá nome ao disco. Há desde canções voltadas para para feriados específicos da região, como na música Casimir Pulaski Day, até faixas que retratam um lado mais “obscuro” do estado, algo que se anuncia através de faixas como John Wayne Gacy, Jr., canção que “homenageia” o famoso serial killer que entre 1972 e 1978 matou quase 30 pessoas e acabou  conhecido internacionalmente como o Palhaço Assassino.

A grande beleza do disco, entretanto, se esconde em alguns momentos bem específicos do trabalho, basicamente quando Stevens volta seu olhar para algumas das principais cidades de Illinois. É o caso de Chicago e Jacksonville, ambas composições que acabam recebendo uma bela moldura instrumental, incluindo desde um detalhado arranjo de cordas e de sopro, bem como um vasto coro de vozes, traduzindo a essência de tais municípios mesmo para aqueles que jamais pisaram ou sequer ouviram falar de tais cidades. Embora as letras sejam quase todas frutos do próprio Stevens, a sensação repassada é a de que na verdade foram os próprios cidadãos destes locais que compuseram tais versos, como se o músico fosse na verdade um mero porta-voz.

Mesmo temático, assim como em Michigan, cada canção presente em Illinois parece se adequar aos mais diferentes estados norte-americanos ou mesmo distintos pontos ao redor do globo, transformando o álbum em um registro de linguagem universal. Tomado por uma fluidez musical incomparável – mesmo quando observamos a totalidade da discografia de Stevens, o álbum se mantém superior -, o disco segue estruturado em uma fórmula dinâmica e entusiasmada até seus últimos segundos, revelando uma unidade e uma beleza entre todas suas faixas, algo que raramente seria visto na época em que o álbum foi apresentado ao mundo.

Illinois (2011, Asthmatic Kitty)

Nota: 9.6
Para quem gosta de: Andrew Bird, Joanna Newsom e Fleet Foxes
Ouça: O disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.