Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2011

The Flaming Lips
Psychedelic/Experimental/Alternative Rock
http://www.flaminglips.com/

 

Por: Cleber Facchi

Durante mais de 15 anos o The Flaming Lips viveu de forma ativa através de uma carreira tomada por constantes registros instáveis, trabalhos que se cercavam de uma instrumentação sempre renovada, experimental e deveras excêntrica, com o grupo de Oklahoma optando por sempre experimentar novas e distintas fórmulas em cada um de seus álbuns. Foi só a partir do harmônico The Soft Bulletin de 1999 que a banda pareceu finalmente ter encontrado a fórmula exata de suas composições, se embriagando através de um universo de emanações oníricas, delírios instrumentais inspirados pela obra dos Beach Boys e uma nuvem de sons psicodélicos que pairaria sobre todos os futuros lançamentos do grupo.

Idolatrados pela crítica e agora donos de um público mais do que fiel – a banda havia deixa o reduto do rock alternativo para capturar uma enorme parcela do grande público -, todos os olhares se voltavam para Wayne Coyne e seus parceiros, que desde seu fenomenal lançamento entraram em um recesso que durou mais de três anos, tempo demasiado extenso se observarmos a constante produção do grupo – desde os anos 80 seguindo em constante atividade. A espera, entretanto, logo seria explicada, com a banda apresentando em julho de 2002 mais um registro desenvolvido para hipnotizar e encantar seu público, um registro que mais uma vez eternizaria a carreira do grupo.

Conceitual em toda sua estrutura, Yoshimi Battles the Pink Robots (2002, Warner Bros.) talvez seja um dos registros que melhor explorem e retratem a estrutura emocional ou psicológica de todo e qualquer ser humano a partir da chegada do novo século, ou mesmo até de outras distintas épocas. Circundado por artifícios líricos que se deságuam em metáforas sobre o amor, crises de identidade, medos, perdas e separações, o álbum se oculta através de uma linguagem puramente simplificada e doce, firmando suas bases em um vasto arsenal de sons e referências que mesmo continuando as temáticas exploradas em The Soft Bulletin enverga por um rumo próprio.

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Utilizando de melodias e arranjos instrumentais que deixariam Brian Wilson orgulhoso (ou morrendo de inveja em alguns momentos), Coyne, Michael Ivins e Steven Drozd mais uma vez se encontrariam com o produtor Dave Fridmann – parceria que se repetiria ainda nos seguintes lançamentos do grupo -, que assim como no registro anterior evitaria que a banda percorresse as mesmas vias esquizofrênicas de alguns de seus trabalhos lançados na década de 1990. Tão delicado e belo quanto seu antecessor, o décimo disco dos lábios flamejantes viria rodeado em sua totalidade por um perceptível diferencial, um registro mais solto e que em alguns (vários) momentos toca a música pop.

Enquanto discorre sobre a metafórica batalha entre a garota Yoshimi contra os robôs rosa – um grande embate entre o indivíduo e seus medos -, a banda vai aos poucos nos agraciando com uma série de composições totalmente desprendidas, faixas que mesmo dentro de uma ideia compartilhada parecem optar por uma condução mais volátil, diferente do hermetismo necessário que delimitava o álbum anterior. Sempre divididas entre o orgânico e o sintético, as canções cruzam elementos não elétricos (e quase bucólicos em alguns pontos) com doses hipnóticas de programações eletrônicas, resultando em um trabalho que parece flutuar através de suas acústicas mágicas.

Para além de promover letras carregadas de simbolismos, Coyne se revela de maneira bastante direta em diversos momentos do trabalho. Isso é bem exemplificado quando nos deparamos com a questionadora Do You Realize? ou mesmo Fight Test e seus versos desafiadores, ambas composições montadas para romper o marasmo sentimental do ouvinte. Faixas que quase beiram a autoajuda em certos pontos, mas que pareciam como um grande “chacoalhão” principalmente ao povo americano após os atentados de 11 de setembro, sendo facilmente adaptadas para quaisquer outras questões da vida do espectador. Um disco que se volta para as massas, assim como parece dialogar diretamente com o ouvinte.

Yoshimi Battles the Pink Robots (2002, Warner Bros.)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Mercury Rev, Animal Collective e Modest Mouse
Ouça: o disco todo

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Recomendo o texto do Vinícius Guimarães do blog Vinnnyl que faz uma ótima observação sobre o disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.