Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 15/09/2011

M.I.A.
Hip-Hop/Electronic/Female Vocalists
http://www.miauk.com/

Por: Cleber Facchi

 

Olhar para o que era produzido sob o rótulo de World Music no princípio da década passada talvez fosse o caminho mais fácil para nos depararmos com musicistas excêntricos, donos de um som pseudo conceitual e sempre que possível adornado por alguma percussão tribal, evocando assim sua ligação com uma tribo desconhecida no interior africano. Embora esta seja uma visão bastante pessimista, poucos artistas ativos naquele momento pareciam interessados em renovar suas experiências instrumentais, vivendo ainda da herança musical que ecoava a década de 1980 e que cada vez mais perdia seu fôlego e seu brilho.

Mesmo que não seja exatamente um marco – como dito, alguns poucos artistas, principalmente na música experimental e no jazz ainda sabiam de maneira hábil como absorver os ritmos vindos de diferentes culturas – ao lançar em 2003 Piracy Funds Terrorism, Vol. 1, a rapper britânica M.I.A. (em parceria com o produtor Diplo) apresentava um trabalho mais do que essencial, quiçá revolucionário para a cultura musical que naquele período começava a tomar formas bem definidas.  Cruzando hip-hop, reggae, funk carioca, música eletrônica e ritmos vindos de diferentes culturas ao redor do globo, o álbum delimitaria as bases para os futuros trabalhos da cantora, além de lançar ao mundo uma nova possibilidade de convergir distintas tonalidades musicais dentro de um único trabalho.

Por mais que Arular (2005) seja o trabalho responsável por realmente apresentar a rapper ao público – Bucky Done Gun, terceira faixa do álbum, se transformaria em uma das canções mais tocadas daquele e dos próximos anos -, transformando-a em uma das novas queridinhas da imprensa especializada, ao lançar Kala, seu segundo registro de estúdio em agosto de 2007, M.I.A. alcançaria um registro de força e pluralidade inigualáveis. Revivendo as mesmas experiências de seus anteriores projetos, porém de maneira melhore desenvolvida, a cantora transformaria o álbum em uma espécie de ponto de encontro entre diferentes nacionalidades e incontáveis ritmos musicais.

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Ainda mais entregue ao cruzamento de sons e tonalidades musicais distintas, o registro aos poucos se revela como um grande passeio pelas periferias de diversas cidades posicionadas em diferentes cantos do planeta, com a cantora e seu time de produtores – que incluem o já parceiro Diplo, DJ Switch (Major Lazer), Timbaland, Blaqstarr e Morganics – transformando cada uma de suas composições em um gigantesco catálogo de batidas, ritmos e samples diferenciados. Orgânico, ao mesmo tempo carregado de cruzamentos eletrônicos, o disco transpira diversidade, amarrando desde elementos vindos do cinema indiano (Bollywood) até trechos de músicas vindas de grupos como Pixies, The Clash e New Order.

Para além de ser aclamado por uma quase totalidade da imprensa musical – o álbum transitou facilmente entre as principais listas e votações dos melhores registros de 2007, batendo de frente com álbuns como In Rainbows do Radiohead ou Sound Of Silver do LCD Soundsystem -, Kala atraiu sem muito esforço aqueles que buscavam por um som comercial. A boa repercussão de músicas como Boyz, Jimmy, Bamboo Banga e principalmente o hit Paper Planes, mantiveram a rapper em boa posição nas principais paradas musicais, mérito óbvio do seu time de produtores, que preencheram todas as frestas do disco com uma leve essência pop.

Assim como já havia experimentado em Arular – o título do álbum vem do nome de seu pai, da mesma forma que Kala homenageia sua mãe -, em seus versos M.I.A. se aprofunda no desenvolvimento de pequenos debates políticos e sociais, fazendo sempre que possíveis duras críticas ao sistema capitalista bem como ao poderio norte-americano. Vasto em todas as suas formas, Kala se ergue como uma grande fortaleza musical, um monumento de proporções incalculáveis, distintas cores, formas e um quase abrigo para indivíduos de diferentes nacionalidades ou donos peculiaridades musicais únicas.

Kala (2007, XL Recordings)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Diplo, Major Lazer e Santigold
Ouça: Boyz, Jimmy e Paper Planes

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.