Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2011

Band Of Horses
Indie/Alternative Rock/Alt. Country
http://www.bandofhorses.com/us/home

Por: Cleber Facchi

O tempo havia fechado de vez em março de 2006. Enquanto um amontoado de nuvens cobriam o céu por completo, automaticamente anunciando a chegada de um clima razoavelmente frio e úmido, um canto quase solitário se anunciava em algum lugar em um canto obscuro de Seattle. A voz, exaltada por alguém de coração visivelmente partido e acompanhado há tempos pela solidão explodia e se abrandava através das cordas vocais de um ainda desconhecido Ben Bridwell, que mesmo se apresentando como um completo estranho aos atentos ouvidos que o escutavam, parecia conhecer os mais obscuros segredos dos ouvintes, com seus amargurados versos reforçando as dores de um passado ainda recente.

É dentro dessa trama de amores que não deram certo, pequenos lamentos sorumbáticos e um toque obscuro que se evidencia por todos os lados, que músico e sua banda – o Band of Horses – apresentam seu primeiro e doloroso álbum, Everything All the Time. Repassando o estranho aspecto de um trabalho que parece aprisionado em uma estufa de sentimentos e sensações melancólicas, a peculiar voz de Bridwell parece ser o único ponto seguro de todo o registro, ou talvez o principal mecanismo que venha a intensificar as próprias dores dos ouvinte.

Mesmo formada onde em épocas passadas Nirvana, Mudhoney e tantos outros lançaram ao mundo as guitarras poluídas e os versos berrados do movimento grunge, as escolhas instrumentais e poéticas do Band Of Horses se mantém dentro de uma linha completamente distinta, com o grupo talvez mantendo sua única ligação com seus antigos conterrâneos através do selo Sub Pop. Tomado por uma sonoridade integralmente orgânica, onde mesmo as guitarras elétricas vêm expostas dentro de uma funcionalidade que vai do Folk ao Alt. Country, o disco parece se anunciar como um trabalho distante de qualquer selva de pedra, surgindo como uma grande reflexão romântica que parece brotar durante um passeio por um bosque ou qualquer outro ambiente bucólico.

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Sombrio e melancólico em sua dezena de composições, o álbum revela todo o esforço da banda – na época formada por Ben Bridwell, Mat Brooke, Chris Early e Tim Meinig – em costurar cada canção presente no registro em uma tapeçaria instrumental repleta de similaridades, com todos os acordes ou qualquer elemento do álbum dotado de uma proximidade bastante visível. A concisão do registro parece também fruto óbvio da presença do produtor Phil Ek – parceria que seria retomada nos seguintes lançamentos do grupo -, que assim como já havia experimentado em algumas de suas anteriores produções – principalmente nos trabalhos com o Built To Spill -, tratou de manter todas as faixas ambientadas dentro de um mesmo universo.

Apesar de beber da mesma verve de grupos como My Morning Jacket e Blitzen Trapper, Everything All the Time propõe sua estrutura musical de forma maleável, preenchendo cada possibilidade com uma dose de elementos comerciais que facilmente apresentaram o grupo ao grande público norte-americano. A boa formação de músicas como Our Swords e principalmente The Funeral garantiram uma intensa participação do grupo nas principais publicações musicais de todo o globo, com a banda integrando a trilha sonora de diversos seriados, filmes e inclusive jogos de videogame.

Diferente de tantos grupos que naquele momento esperavam pela transição entre o underground e o mainstream, o Band Of Horses sempre se apresentou como uma banda grande, capaz de passear tanto pelo público alternativo como pelos interessados em sons radiofônicos ou de pura acessibilidade comercial. Contudo, a naturalidade com que a banda transita por esses dois públicos tão opostos e de maneira tão natural, não se manifesta apenas pelo bem apresentável conjunto de versos e sons puramente melódicos que se revelam no decorrer do registro, mas pela forma sincera como o álbum se locomove, com Bridwell e seus parceiros transformando cada segundo do disco em um grande compensado de sentimentos verdadeiros e compartilhados.

 

Everything All the Time (2006, Sub Pop)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: My Morning Jacket, Fleet Foxes e Bonn Iver
Ouça: The Funeral

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.