Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 20/09/2011

Deerhunter
Experimental/Shoegaze/Psychedelic
http://www.myspace.com/deerhunter

Por: Cleber Facchi

Para além do lançamento de uma série de trabalhos de extrema importância, registros que contribuíram de forma inegável para o cenário musical de todas as épocas, a primeira década dos anos 2000 serviu para apresentar uma pequena safra de novos cantores e compositores da mais pura relevância. Indivíduos como o mago das pistas de dança James Murphy, o gênio do hip-hop Kanye West, o workaholic e mestre nas guitarras Jack White, Win Butler e suas composições de pura grandiosidade ou ainda o quarteto do Animal Collective. Nenhum deles, entretanto, conseguiu mesclar tamanha genialidade e excentricidade em uma mesma medida, quanto o estranho e brilhante Bradford Cox.

Seja por meio de suas composições em carreira solo, através do projeto Atlas Sound, ou mesmo em suas parcerias com uma série de outros representantes da atual safra do rock alternativo, Cox faz com que cada uma de suas músicas sejam um portal para um mundo às avessas. Tanto em suas letras, que vão do sombrio ao nonsense em segundos, como pela instrumentação por ele gerada – uma espécie de trilha sonora para um universo de indivíduos e sensações bizarras -, cada segundo passado dentro de suas composições acabam por posicionar o ouvinte dentro de um completo estado de esquizofrenia.

Mesmo que cada mínima criação gerada pelo músico mereça uma atenção especial do ouvinte, que frequentemente é presenteado com um verdadeiro arsenal de pequenos clássicos contemporâneos, poucos trabalhos elaborados pelo norte-americano alcançaram o mesmo patamar poético e a mesma excepcional instrumentação do complexo Microcastle (2008, Kranky/4AD), terceiro álbum de Cox ao lado dos companheiros do Deerhunter. Melancólico, sombrio, climático e intenso, o disco é de longe um dos projetos musicais mais inventivos da última década, um álbum que se desvencilha de lógicas para desenvolver uma funcionalidade apenas sua.

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Da introdução atmosférica e até simplista de Cover Me (Slowly), passando pela sufocante e doce Agoraphobia, a quase dançante e esquizofrênica Never Stops, o desespero instrumental e lírico de Nothing Ever Happened ou mesmo o fechamento em nível épico de Twilight At Carbon Lake, tudo dentro do suntuoso trabalho é explorado de forma peculiar não apenas por Cox, mas também por seus entusiasmados companheiros de banda. As guitarras não soam como instrumentos, mas como matéria instrumental, sons que se derretem e se aglutinam com sequências inteiras de ruídos, um resultado que perverte os limites do shoegaze, da música psicodélica ou mesmo do próprio rock experimental.

Vindo da sequência do também completo Cryptograms (2007), Microcastle é um trabalho que mesmo sujo e complexo desperta uma estranha sensação de proximidade e acalento, como se ao gritar “Nada jamais aconteceu comigo” ou de se expor “crucificado em frente aos meus amigos mais próximos” Cox não falasse sobre ele, mas sobre os momentos mais sombrios e dolorosos do próprio espectador. Longe de qualquer tonalidade esperançosa, o registro segue pontuado por guitarras e versos repletos de lamento, dor e um constante estado de confusão inebriante, com o ouvinte flutuando nas letras e na mente de Bradford.

Pouco após o lançamento do disco – que foi de maneira justa elogiado pela quase totalidade da imprensa norte-americana e mundial, além de se transformar no registro mais querido dos fãs -, uma espécie de “complemento” do mesmo álbum acabou caindo na rede. Denominado Weird Era Cont., o álbum de 13 novas faixas acabou acoplado ao registro “irmão”, tornando ainda mais complexo e surpreendente o resultado proposto bela banda. Mesmo que antes ao lançamento do álbum o grupo já circulasse com destaque pelo cenário independente, Microcastle transformaria o Deerhunter em um dos mais cultuados representantes do rock alternativo atual, firmando de maneira definitiva a figura de Bradford Cox como um pequeno gênio dessa geração.

 

Microcastle (2008, Kranky/4AD)

 

Nota: 9.5
Para quem gosta de: Atlas Sound, Lotus Plaza e No Age
Ouça: Never Stops

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.