Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2011

Grizzly Bear
Folk/Indie/Experimental
http://www.grizzly-bear.net/

 

Por: Cleber Facchi

Quando Yellow House foi apresentado ao público em setembro de 2006 havia a clara percepção de que qualquer futuro trabalho lançado pelo Grizzly Bear seria incapaz de superar tão sublime obra. Seja pelos lamentos penosos de Edward Droste ou mesmo os arranjos detalhados de Chris Taylor (que também assume a produção do disco), todos os elementos que delineavam tão cuidadoso registro pareciam simplesmente impossíveis de serem substituídos, contudo, a mesma navalha empregada na dolorosa Knife foi utilizada três anos mais tarde para que a banda cortasse qualquer ligação com o passado e investisse em um trabalho ainda mais suntuoso.

Enquanto em seu segundo disco – o primeiro que realmente despertou o interesse do público e também da imprensa – a banda partia em busca de um som confortável, com guitarras e arranjos de voz cuidadosamente esculpidos e posicionados com sutileza dentro do álbum, para Veckatimest, de 2009, tais experiências são novamente exploradas, porém, com a pequena diferença de que o grupo – completo com Daniel Rossen e Christopher Bear – agora partia de um novo princípio. Mesmo mantendo o mesmo toque experimental de outrora, em seu terceiro álbum o quarteto vem cercado por um som grandiosos, raspando em contornos épicos e também extremamente próximo da música pop.

Estranho pensar que tão conceitual projeto chega acompanhado por uma sonoridade tão acessível e volátil, entretanto, é exatamente isso que a banda explora em cada uma das 11 nada moderadas composições que se abrigam no álbum. Faixas que mesmo portando uma máscara carregada de sutilezas complexas parece estranhamente dialogar com o grande público e não apenas com o pequeno nicho de seguidores da freak folk que acompanhavam o quarteto até então. Da pegajosa e popular Two Weeks aos arranjos experimentais de Ready, Able, tudo dentro do registro soa de forma substancialmente atrativa e deliciosamente radiofônica.

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Cada mínima proporção de Veckatimest revela algum aspecto inusitado ou surpreendente, mantendo o ouvinte sempre atento, como se além de absorver as belas letras que flutuam a partir da obra, ou mesmo sua musicalidade envolvente, qualquer audição do trabalho só fica completa quando absorvemos cada mínima frequência ou qualquer pequeno detalhe apresentado pela banda. E assim ficamos por mais de 50 minutos, tentando captar cada pequena exaltação ou cada mínimo ruído que escapa através do disco, sendo aos poucos embarcados pelas mesmas ressonâncias densas do álbum como se as faixas saíssem do disco e literalmente circundassem o espectador.

Por mais que as mudanças e o salto instrumental estabelecido pelo grupo em relação aos seus projetos anteriores seja algo sem precedentes, o disco mantém ainda uma intensa relação com as antigas composições elaboradas pelo Grizzly Bear. Prova cabal disso reside em canções aos moldes de I live With You, Cheerleader ou mesmo a doce Two Weeks, músicas que mesmo tomadas por uma fluidez mais natural e menos esquizofrênica concentra em suas batidas quebradas ou mesmo na instrumentação instável uma constante ligação com os primórdios da banda nova-iorquina.

Embora Veckatimest deixe transparecer o que soa como uma forte concisão entre seus integrantes, o disco também se revela como um achado circundado por outros indivíduos, amigos e colaboradores. Há tanto a participação vocal de Victoria Legrand (Beach House), como a ilustração da capa montada pelo artista plástico William J. O’Brien, um tipo de esforço colaborativo que já vinha se manifestando desde o último EP da banda – Friend, lançado em 2007 – e que aqui parece surgir como um elemento de acréscimo fundamental para esta que é uma das maiores obras da música contemporânea.

 

Veckatimest (2009, Warp)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Department Of Eagles, Fleet Foxes e Beach House
Ouça: Two Weeks e Cheerleader

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.