Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 22/09/2011

Modest Mouse
Indie/Lo-Fi/Alternative
http://www.modestmousemusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Após o apresentar do bem conceituado The Lonesome Crowded West em novembro de 1997, com o Modest Mouse evoluindo de forma visível em relação aos seus primeiros lançamentos, apenas dois rumos pareciam possíveis aos futuros projetos do grupo: seguir as mesmas experiências musicais do passado e lançar um álbum redundante, ou investir em algo novo, capaz de superar tão elogiado registro. Agora ligados a uma grande gravadora – a Epic Records – todos os caminhos pareciam convergir para a primeira opção, algo que de maneira categórica Isaac Brock e seus parceiros conseguiram evitar ao lançar em junho de 2000 The Moon & Antarctica, um álbum que não apenas superava seu antecessor, como transformava a banda de Issaquah, Washington em uma das mais importantes do indie rock mundial.

A mesma atmosfera caseira que acompanhava a banda desde seus primeiros lançamentos no inicio dos anos 90 – alguns deles em fitas cassete, como o raro Tube-Fruit, All Smiles And Chocolate de 1993 – ainda se faz presente ao longo do álbum que beira os 60 minutos de duração, entretanto, aqui os rumos são outros. Ao mesmo tempo em que investe no uso de uma musicalidade que remeta ao passado, a ligação com uma grande gravadora praticamente obriga que o grupo proporcione um som límpido e no mínimo acessível ao público, elementos contrastantes que definem toda a beleza instrumental do trabalho.

De maneira quase integral, as canções presentes no disco abrem pequenas, vão lentamente se cobrindo com um manto instrumental mais intenso, carregado de detalhes e que por fim acabam por revelar um resultado final banhado de beleza, além de uma expansão sonora que beira um resultado épico. Seja tocando de leve a psicodelia em The Cold Part, brincar de rock progressivo na gigantesca The Stars Are Projectors e seus solos volumosos, ou mesmo honrando suas predisposições ao Lo-Fi em Perfect Disguise, cada faixa do registro parece aportar em um diferente território musical, mesmo que a banda mantenha constante o sentimento de união entre as faixas.

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Se a sonoridade ressaltada ao longo do registro reforça um caráter de inovação, com a banda – na época composta apenas por Isaac Brock (guitarras e vocal), Jeremiah Green (bateria) e Eric Judy (baixo) – superando seu anterior e competente lançamento, em suas letras, Brock deixa de lado as experiências deveras excêntricas e alguns toques de nonsense para produzir um trabalho muito mais intimista e consequentemente agradável ao público. Melancólico, mas sem exageros, o disco chega inundado por faixas aos moldes de The Cold Part ou Dark Center of the Universe, que se apoiam em cima de pequenas desilusões não apenas amorosas, mas pessoais e até existencialistas em alguns momentos.

Tanto a sonoridade explorada através do álbum como os versos propostos por Brock acabariam por definir os seguintes lançamentos da banda, principalmente Good News For People Who Love Bad News, de 2004, trabalho que parece estar intimamente relacionado ao registro de 2000, inclusive com a instrumentação soando muito próxima. Entretanto, The Moon & Antarctica – o título do disco vem de uma frase proferida no filme de ficção científica Blade Runner, de 1982 – é o único que consegue manter uma estranha porém constante harmonia, com a banda administrando bem essa divisão entre se manter no underground, memo capaz de alcançar o mainstream.

O peso do álbum seria tanto, que logo no ano seguinte a Epic convidaria a banda a lançar todas as canções que acabaram de fora do disco através do EP Everywhere and His Nasty Parlour Tricks. A boa repercussão do trabalho, entretanto, acabaria ocultando o lançamento do quarto disco oficial do grupo, Sad Sappy Sucker, que acabaria passando de forma quase despercebida ou sendo lavado por uma enxurrada de críticas negativas. Completo em todos seus aspectos, o álbum ainda hoje é visto como um dos melhores, se não o melhor, trabalho da banda, aspecto que parece ser renovado em cada nova audição do disco.

 

The Moon & Antarctica (2000, Epic)

 

Nota: 9.3
Para quem gosta de: Built To Spill, Ugly Casanova e Neutral Milk Hotel
Ouça: 3rd Planet e Dark center Of Universe

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.