Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 28/09/2011

The White Stripes
Alternative/Indie/Rock
http://whitestripes.com/

Por: Cleber Facchi

Falar sobre The White Stripes é praticamente uma prerrogativa para elogiar o sempre elogiado Elephant, quarto álbum da dupla de Detroit e registro que apresentou os norte-americanos ao mundo com Seven Nation Army. Entretanto, dois anos antes de entregar o conceitual registro que transformou o casal Meg e Jack White em um dos pequenos fenômenos do rock alternativo, todas as experiências musicais da banda já estavam bem estabelecidas nas rajadas de guitarras e vocais berrados que ecoavam pelo jovial e intenso White Blood Cells (2001).

Tomado por fenômenos acústicos carregados de crueza e uma dupla de músicos que pela primeira vez parecia estar ciente do que estavam construindo, com o terceiro disco o casal parecia finalmente ter alcançado a sonoridade que havia buscado desde seu primeiro registro. Vindos de uma sequência de dois álbuns consecutivos – um homônimo lançado em 1999 e De Stijil de 2000 – ao apresentarem o terceiro lançamento todas as experiências musicais que há tempos vinham acompanhando a banda pareciam bem delimitadas.

A paixão de Jack White pelo Blues vem exposta de maneira mais do que significativa ao longo do registro, que chega pontuado por sobrecargas e doses cavalares de distorção que ligam o duo diretamente aos grandes expoentes do garage rock dos anos 70 e 80. Afundados em um passado recente (e também distante), a dupla pinta o álbum com novidade ao amarrar uma plasticidade musical ao disco, fazendo com que mesmo capaz de ecoar distintas referências vindas de outras épocas, o álbum ainda seja capaz de dialogar que forma única com que estava em voga na música daquele momento.

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Mesmo composto inteiramente pelo casal White – enquanto Jack assume as guitarras, pianos e o vocal do disco, Meg administra sua bateria tosca, porém suficientemente cativante –, a sensação estabelecida ao longo do álbum é a de que ele foi produzido e tocado por uma verdadeira orquestra de músicos, todos empunhando em mãos guitarras sempre firmes e carregadas de distinção. O resultado é uma sequência de 16 composições tomadas por um peso e uma sobriedade única, paredões sonoros intransponíveis e faixas que se transformaram em clássicos imediatos para a nova geração de apreciadores do rock.

Dos acordes viscerais de Dead Leaves And The Dirty Ground na abertura do disco, ao toque de rock clássico em Hotel Yorba, passando pela descontração de Fell In Love With A Girl, por todos os cantos do disco se escondem (ou se apresentam) faixas capazes de incorporar uma sonoridade que mesmo madura e capaz de dialogar firmemente com as grandes produções musicais do passado, tingem os ouvidos do espectador com novidade. É simplesmente impossível se manter estável ou indiferente quando explodem músicas aos moldes de I Think I Smell A Rat com seu riff fácil ou mesmo faixas como Aluminum, com sua tonalidade Lo-Fi e quase experimental. Cada música do álbum, por mais simplista que seja, prende sem muitos esforços qualquer ouvinte.

Os pequenos diálogos aos fundos e até alguns visíveis erros na condução dos instrumentos deixam transparecer um caráter de disco ao vivo e despretensioso, como se o álbum fosse inteiramente elaborado dentro de uma lógica livre de quaisquer compromissos, com o duo de integrantes visivelmente se divertindo com o resultado por eles apresentado. Mesmo que apenas nos trabalhos seguintes a banda tenha recebido todas as atenções do público e da imprensa, nenhum futuro álbum do White Stripes seria capaz de concentrar a mesma crueza e a mesma genialidade apresentada dentro deste disco.

White Blood Cells (2001, Sympathy)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: The Raconteurs, The Dead Weather e The Kills
Ouça: Fell In Love With A Girl

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.