Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 04/10/2011

Panda Bear
Experimental/Psychedelic/Freak Folk
http://www.myspace.com/pandabear

 

Por: Cleber Facchi

Uma grande convergência de ritmos, formas, texturas, ruídos e pequenas nuances instrumentais, assim é Person Pitch (2007, Paw Tracks), terceiro registro lançado pelo músico norte-americano Noah Lennox sob o nome de Panda Bear e uma das obras musicais mais complexas lançadas nas últimas duas ou três décadas. Fundindo um catálogo incontável de referências, sons e tendências musicais, o disco vai aos poucos reproduzindo um tipo de som único, uma grande massa sonora que mesmo plural transparece um caráter de unidade, como se todos os sons acumulados dentro do álbum eclodissem em um universo de referências instáveis e quase místicas.

Construído ao longo dois anos, o álbum é o resultado de um grande acúmulo de diversos elementos captados e separados por Lennox desde que o mesmo lançou em setembro de 2004 seu segundo disco, Young Prayer, um trabalho que já apontava todos os rumos a serem escolhidos pelo músico em seu lançamento seguinte. De ruídos aquáticos, passando por sons de animais ou mesmo um vasto jogo de samples e mínimos trechos de músicas, o disco vai lentamente transparecendo a imagem de um registro que mesmo uno e recluso dentro de seu hermetismo soa como uma vasta discografia, uma espécie de ponto final para onde escoam diversas corredeiras musicais.

Diferente do que vinha desenvolvendo até então ao lado de sua banda, o Animal Collective – que naquele mesmo ano lançaria o elogiado Strawberry Jam -, em carreira solo Lennox optou pela construção de um som muito mais climático, apoiado no uso de loopings etéreos, além de se sustentar em cima de um bem constituído jogo de pilares instrumentais, percorrendo desde as temáticas do Dub, doses de um experimentalismo imoderado e, claro, pequenas transições pelo Freak Folk. Como resultado o músico consegue reproduzir um álbum que soa como dono de diversas características, sem necessariamente se apoiar em nenhuma.

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Dotado de sete faixas – algumas como Good Girl/Carrots ultrapassam os 12 minutos de duração – Person Pitch consegue surpreender o ouvinte (ou confundi-lo) a cada segundo. Na épica Bros, por exemplo, Lennox costura um looping cacofônico de Red Roses and a Sky of Blue, do grupo inglês The Tornados, vai picotando doses de I’ve Found a Love do Cat Stevens, isso enquanto se vale de trechos de Rub a Dub Dub da banda britânica The Equals. Por fim, seus vocais esvoaçados vão se sobrepondo a melodia, resultando em uma composição magnânima, surpreendentemente vasta e complexa em todos seus estágios.

Outro elemento de grande destaque dentro do álbum se manifesta a partir da forma como as composições, mesmo distantes uma das outras e apoiadas em distintos elementos musicais carregados de pura complexidade, acabam de alguma forma repassando um aspecto de proximidade. É como se uma espécie de linha instrumental excêntrica fosse aos poucos entrecortando todo o trabalho, desenvolvendo certo caráter de união entre a faixa de abertura, Comfy In Nautica, com a última canção do álbum, Ponytail, traduzindo o disco em um projeto que mesmo amplo e apoiado em diversas experiências mantém certa dose de limite.

Difícil ao mesmo tempo em que soa doce e incrivelmente acessível, Person Pitch expõe uma presença instrumental e lírica que mesmo difícil em uma primeira audição cedo ou tarde acabará encantando (ou hipnotizando) o ouvinte, que lentamente é sugado para dentro das emanações densas e chapadas das composições. O álbum acabaria servindo como forte influência para uma série de bandas como Grizzly Bear, Yeasayer ou mesmo o próprio Animal Collective, se apresentando como um dos maiores tratados (se não o maior) relacionados com a música instrumental. Um disco que praticamente ganha vida e caminha com seus próprios pés.

Person Pitch (2007, Paw Tracks)

 

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Animal Collective, Avey Tare e Atlas Sound
Ouça: O disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.