Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 06/10/2011

Yo La Tengo
Indie/Alternative/Dream Pop
http://www.yolatengo.com/

 

Por: Cleber Facchi

Poucas são as bandas capazes de gerir uma discografia de forma tão funcional e coerente quanto o Yo La Tengo. Desde que a banda encontrou sua “fórmula” em idos da década de 1990 com o álbum Painful, que o trio de Hoboken, New Jersey vem se responsabilizando pela produção de alguns dos trabalhos mais complexos e bem explorados do sempre vasto cenário voltado ao rock alternativo. Entretanto, após o lançamento do belíssimo I Can Hear the Heart Beating as One em abril de 1997 parecia que nada mais poderia brotar com tamanha beleza na discografia do grupo. Um pensamento falho que posteriormente seria sumariamente apagado.

Estabelecendo uma espécie de ponte entre a música do The Velvet Underground, as exposições climáticas do Galaxie 500 e o ritmo sensualmente etéreo do Cocteau Twins, a banda transforma seu nono álbum, And Then Nothing Turned Itself Inside Out (2000, Matador) em um dos projetos mais cuidadosos e envolventes que o rock já viu. Costurado por guitarras climáticas que simplesmente se derretem ao longo do álbum e temperado por mínimas pitadas de uma percussão preparada de forma cuidadosa, o registro se propõe de maneira concisa da primeira à última faixa, sendo praticamente impossível escapar de suas doces amarras.

Extenso, ao longo de seus quase 80 minutos de duração o álbum e suas 13 composições vão se movimentando com parcimônia, permitindo que o ouvinte possa saborear ao máximo todas as construções instrumentais desenvolvidas pelo trio Georgia Hubley (bateria, piano e voz), Ira Kaplan (guitarra e voz) e James McNew (baixo e voz). Cada mínima parcela do trabalho parece desenvolvida com excepcional cuidado, como se todos os elementos – instrumentos ou voz – só fossem inseridos em seu melhor estado, com a banda desenvolvendo cada acorde (mesmo os mais simples) de maneira primorosa.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=zDgpQBaziy0?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=Az3SHeMHC6c?rol=0]

Tomado por uma funcionalidade atmosférica, o álbum carece de uma audição apurada, exigindo uma máxima atenção do ouvinte, algo que não é nem um pouco difícil, afinal, bastam apenas os primeiros acordes da faixa de abertura, Everyday, para que o espectador seja rapidamente inserido dentro do contexto do disco. Como se fosse esculpido por uma trinca de artesãos, o registro vai pouco a pouco se desenrolando nos ouvidos do audiente, deixando à mostra cada uma de suas mínimas e detalhadas texturas.

Assim como todos os momentos do álbum são explorados com afinco, esbanjando uma aura carregada de sexualidade, romantismo e uma tonalidade energética que parece pronta para embalar a trilha de quaisquer enamorados, em seus versos a relação entre amor, paixão e sexo é ainda mais intensificada. Logo na segunda faixa do álbum, Our Way To Fall, Kaplan anuncia “Eu me lembro um dia de verão/ Eu me lembro ir em sua direção/ Eu me lembro ter corado/ E eu me lembro olhando meus pés/ Eu me lembro antes de nos encontrarmos/ Eu me lembro sentar ao lado de você/ E eu me lembro fingir não estar olhando”, em um jogo de palavras que parecem pensadas para qualquer tipo de relacionamento ou primeiro encontro.

“Se você quer meu coração/ Pegue baby/ Pode pegar tudo”, anunciam os mesmos vocais em You Can Have It All, com Kaplan entregando mais uma dose de seu romantismo exacerbado, algo que se repete ainda em Last Days Of Disco, Night Falls On Hoboken (com mais de 17 minutos de duração) e Tears Are In Your Eyes, todas músicas dotadas de uma linguagem romântica universal. Embora fossem obviamente compostas para Hubley (esposa do músico), cada faixa parece se posicionar em um dia, ano ou período específico da vida de qualquer ouvinte, fazendo com que o álbum repasse o estranho aspecto de ser projetado diretamente para o ouvinte.

 

And Then Nothing Turned Itself Inside-Out (2000, Matador)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Galaxie 500, The Magnetic Fields e Low
Ouça: Realize e Our Way To Fall

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.