Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 18/10/2011

Kanye West
Hip-Hop/Rap/R&B
http://kanyewest.com/

Por: Cleber Facchi

Quando lançado em fevereiro de 2004, The College Dropout surgiu como uma clara alternativa ao que era exigido pelo redundante hip-hop norte-americano, naquele momento afundado em uma soma de fatores que vinham se arrastando desde a década de 1990. Salvo alguns nomes como Jay-Z e OutKast, a produção voltada ao rap parecia estagnada, fazendo coro aos luxos e abusos ressaltados pelos propagadores do gênero, logo, a estreia do elogiado produtor Kanye West surgia como uma dose direta de frescor. Entretanto, quem via no álbum uma obra-prima, talvez não fosse capaz de ver o que ainda estava por vir.

Apresentado logo no ano seguinte ao fenomenal debut do rapper de Atlanta, Late Registration revela uma consistência ainda maior que aquela encontrada na estreia de West, dando formas a um projeto audacioso e completo. Andar ao lado de Jesus no primeiro disco parece ter garantido a iluminação necessária para que o produtor desenvolvesse os versos, encontrasse os samples e buscasse pelas mais coerentes participações ao longo de todo o trabalho, um registro que mantém em suas 21 faixas uma organização irretocável.

Recepcionado de forma quase unânime – revistas como a Rolling Stone e jornais como o The Guardian garantiram cinco estrelas ao trabalho -, o disco surge de uma intensa aproximação que o rapper pela obra do trio britânico Portishead. Na verdade, muito do que inspira West ao longo do álbum vem do álbum Roseland NYC Live, de 1998, um disco ao vivo lançado pela tríade inglesa em parceria com a Filarmônica de Nova York, e que consequentemente acaba se revelando em cada instante das duas dezenas de faixas que abrangem o disco.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=6vwNcNOTVzY?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=mWoUCDTfWqA?rol=0]

A necessidade de West em fundir elementos do rap com doses orquestrais de música clássica acabaram o aproximando do badalado instrumentista Jon Brion, que mesmo com uma baixa experiência voltada ao hip-hop, acaba assumindo grande parte da produção do disco. O resultado desse encontro se traduz em um constante embate entre beats, doces harmonias, scratches e solos bem delineados de pianos, uma mistura que em nenhum momento soa de forma estranha, pelo contrário é com naturalidade que faixas como Roses, Heard ‘Em Say e Bring Me Down chegam até o ouvinte.

Além da bem desenvolvida parceria com Brion, Late Registration vai aos poucos revelando uma série de coesos encontros com um vasto número de distintos representantes do mundo da música. Da inusitada parceira com Adam Levine do Maroon 5 em Heard ‘Em Say, ao apresentar dos ainda desconhecidos Lupe Fiasco e The Game em Touch The Sky e Crack Music, em sua totalidade o disco surge como um grande ponto de encontro. Até Jamie Foxx há tempos distante do mundo da musica acabou ressurgindo na excelente Gold Digger.

Com o álbum, West se transformaria em uma espécie de deus moderno do mundo da música, convertendo suas apresentações ao vivo em verdadeiros espetáculos, arrastando multidões para seus shows. O registro garantiria ainda ao rapper a possibilidade de provar de novas experiências musicais em seus trabalhos seguintes, orquestrando tanto o público quanta a crítica da maneira que bem entendesse. Caso você nunca tenha gostado de hip-hop Late Registration é o trabalho mais do que recomendado para que você mude seus conceitos.

Late Registration (2005, Roc-A-Fella/Def Jam)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Jay-Z, Kid Cudi e Lupe Fiasco
Ouça: o disco todo.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.