Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2011

Beach House
Dream Pop/Lo-Fi/Indie
http://www.myspace.com/beachhousemusic

Por: Cleber Facchi

Difícil não observar o segundo trabalho da dupla de Baltimore, Beach House sem não nos depararmos com uma experiência musical quase religiosa. Do título, Devotion, passando pela capa, uma espécie Tabuleiro Ouija simbólico, ao tom arrastado e de quase reza das composições, tudo nos aproxima de uma tonalidade sacra. À medida que o disco se desenvolve, mais somos absorvidos pela sonoridade densa de Victoria Legrand e Alex Scally, uma espécie de líderes religiosos, indivíduos carregados por uma propriedade de convencimento que se esconde tanto em sua voz, quanto na música por eles delimitada.

Diferente do que fora proposto pelo casal dois anos antes, ao lançar seu homônimo e elogiado primeiro disco, em sua sequência musical vê-se claramente um amadurecimento, com o duo mantendo firme o laço com o Dream Pop, porém se aproximando de um jogo de novas sonoridades. Como se aportasse nas páginas do novo testamento, a dupla investe tanto no Pop de Câmara exaltado por Brian Wilson e o The Zombies, até pequenas fragrâncias da música folk da década de 1960, tornando a experiência ressaltada ainda mais intensa.

Composto de 11 faixas – seriam estes os mandamentos a serem seguidos pelos integrantes do suposto culto? -, o registro trafega tanto pelo etéreo quanto pelo hipnótico. Entretanto, diferente do primeiro álbum, sempre que a dupla começa a se afastar demais do chão, surge um tipo de elemento que os puxa de volta, nesse caso, o uso de versos entoados de forma melódica, quase beirando o pop. Assim, torna-se difícil desvencilhar-se da delicadeza de Gila, Turtle Island e D.A.R.L.I.N.G., que mesmo essencialmente específicas parecem dialogar com todos os públicos.

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Devotion parece realmente se desenvolver dentro de uma espécie de culto religioso, com cada faixa marcando um ato em específico da suposta celebração. Do clima de preparação na música de abertura, Wedding Bell, passando pelo momento de festejo e palmas descompassadas em Holy Dances – literalmente “danças sagradas” -, até os sinos misteriosos ao final de Astrounaut, tudo se representa de maneira ritualística, dentro de uma ordem exata e religiosamente reconfortante.

Se Legrand é a responsável por preparar o texto e o discurso para seus fiéis seguidores, então Scally se revela como o grande responsável por cativar instrumentalmente quem estiver presente na celebração, temperando cada sermão da parceira com uma dose significativa de delicadas projeções musicais. Da melancolia exposta em sequências acinzentadas de órgãos obscuros ao passeio de guitarras reducionistas, sempre passeando ao fundo das composições, Alex desenvolve um pano de fundo perfeito para o bom rendimento do trabalho, edificando uma estranha atmosfera que acolhe e conforta o ouvinte.

Sublime em todas suas proporções, Devotion flui como um grande encantamento aos ouvidos, um afago musical capaz de convencer o espectador através de seu discurso sem grandes esforços. Com o praticamente religioso álbum, o Beach House literalmente se transformaria em um dos projetos mais cultuados da nova safra de bandas norte-americanas, preparando o terreno para dali alguns anos apresentar sua obra-prima, Teen Dream. Místico até seus últimos segundos, o álbum é um convite para um mundo de crenças e sensações, onde a música parece ser seu único deus.

Devotion (2008, Carpark Records)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Grizzly Bear, Deerhunter e Twin Sister
Ouça: Turtle Island e Heart of Chambers

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.