Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 01/11/2011

Animal Collective
Experimental/Psychedelic/Indie
http://animalcollective.org/

Por: Cleber Facchi

 

O que define determinado álbum como um registro clássico?

a) O vasto jogo de hits e faixas melódicas que dele brotam.
b) O diálogo e a ligação musical exercida entre as composições.
c) A produção de um trabalho conceitual e vanguardista.
d) O uso de um lirismo apurado e versos tomados pela distinção.
e) Todas as alternativas acima.

Provavelmente ao falar de Merriweather Post Pavilion, oitavo registro em estúdio do grupo Animal Collective seja necessária a criação de uma sexta categoria, uma classificação que vá além de um mero “todas as alternativas acima”. Afinal, definir o clássico álbum em simples alternativas ou singelas nomenclaturas seria o mesmo que excluir toda sua grandeza. Experimental, melódico ou um grande condensado de hits, independente de sua classificação, o álbum é um trabalho capaz de provocar o ouvinte, um registro que parece romper com qualquer tipo de lógica musical, inclusive a de seus próprios criadores.

Enquanto público e crítica já preparavam os festejos para o fechamento da primeira década dos anos 2000, elencando suas listas de melhores álbuns do período, os quatro integrantes do grupo nova-iorquino apoiados por um pouco conhecido produtor (Ben H. Allen) chegaram com a cereja do bolo. Mesmo aqueles que há tempos acompanhavam as produções do coletivo jamais imaginavam que a banda pudesse traduzir seus tradicionais experimentos sonoros em algo tão vasto, dinâmico, melódico e, por que não, extasiante.

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Psicodelia caminha lado a lado com a música pop, harmonias suaves de vocais se entrelaçam com doses exorbitantes de experimentos eletrônicos, sintetizadores se desmancham como se fossem água, tudo dentro de uma estufa musical que transita entre o etéreo e o tangível. Muito mais “fácil” que os anteriores lançamentos da banda, o álbum mantém constante a busca por um som renovado e que estranhamente dialoga com o grande público, ao mesmo tempo em que honra suas origens e segue dentro de um campo extremamente complexo e voltado a um público totalmente específico.

Claramente fundamentado dentro das mesmas experiências que Noah Lennox (Panda Bear) já havia testado dois anos antes em carreira solo – através do álbum Person Pitch -, MPP vai aos poucos revelando um intenso jogo de sons e formas musicais que vão do ambiental e sereno ao grandioso e explosivo em segundos. Da faixa de abertura, In the Flowers, passando pelo arrasa quarteirões My Girls, Summertime Clothes, Bluish, até o fecho com Brothersport, tudo se apresenta de maneira intimamente conectada, como se o álbum todo fosse uma obra única e impossível de ser fragmentada.

Soando como um Pet Sounds às avessas ou um Kid-A dissolvido em lisergia, o registro acabou funcionando como um segundo debut do quarteto, tanto aos que a partir dele acabaram conhecendo o trabalho dos nova-iorquinos, como para os antigos seguidores, que encontraram através do álbum um novo Animal Collective. Se ainda havia qualquer tipo de limite dentro do cenário musical Merriweather Post Pavilion não apenas rompeu com todos eles, como inclusive estabeleceu novas e esquizofrênicas regras.

Merriweather Post Pavilion (2009, Domino)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Panda Bear, Avey Tare e Deerhunter
Ouça: o disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.