Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2011

Fennesz
Ambient/Experimental/Electronic
http://www.fennesz.com/

Por: Cleber Facchi

 

Se a frieza dos sons é o que praticamente define (de maneira vulgar) a ambient music como um todo, então o austríaco Christian Fennesz é um dos responsáveis por perverter isso. Habitante de um universo musical repleto de esquizofrenias e sonoridades sintéticas que corrompem com a lógica instrumental, o produtor europeu conseguiu em julho de 2001 amarrar todas as pontas do gênero a que está atrelado, cruzando as mais puras experimentações com uma dose relevante (e necessária) de melodias acalentadas, convertendo Endless Summer em uma verdadeira obra-prima da música eletrônica.

Talvez aos leigos, a sucessão de sons inconstantes e reverberações ruidosas sintéticas que delimitam o trabalho do artista acabem revelando uma tonalidade essencialmente complexa e até desconfortável em uma primeira ou até terceiras audições. Por mais “acessível” e “dinâmico” que seja o trabalho de Fennesz ao longo do registro, há sempre o constante emaranhado de estranhas fórmulas sonoras, uma sucessão de cacofonias musicais que estranhamente aos poucos se aproximam e acalentam o espectador.

Transformando uma guitarra e seus múltiplos efeitos em uma verdadeira orquestra de sons excêntricos que se esbarram, agregam e se sobrepõem, o austríaco constrói ao longo de 44 minutos um exercício da mais pura experimentação, mantendo um tipo de diálogo acústico puramente peculiar e único. Entre exaltações minimalistas que se apóiam exclusivamente nas experiências ruidosas da sonoridade Glitch, o produtor se esquiva do básico justamente ao promover um som que encontre em pequenas partículas ensolaradas uma originalidade hipnótica, fazendo brotar um tipo de música que mesmo específica acaba se abrindo para novos públicos.

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Assumidamente influenciado pelas experiências harmônicas do Beach Boys em sua fase Pet Sounds – algo visível logo na capa do trabalho -, Fennesz vai aos poucos convertendo suas complexas projeções instrumentais em composições recheadas por pequenas, porém, notáveis melodias. O melhor exemplo disso está na calmaria sorumbática da faixa título, que encontra no bem acertado cruzamento entre doces guitarras e ruídos abafados uma linguagem sonora carregada de distinção e, por que não, beleza.

Embora consiga dar vida a uma série de faixas tomadas pela diversidade e o constante cruzamento de distintos elementos sonoros, quando se apoia no uso de loopings constantes e uma repetição musical que flerta com o Drone, o produtor não apenas acerta como promove alguns dos melhores exemplares de seu trabalho. A constante repetição de sons em Before I Leave, por exemplo, acaba estabelecendo um tipo de som estranhamente atrativo, mergulhando o ouvinte em uma sequência de sons que ao invés de afastarem o ouvinte, acabam intrigando-o.

Surgindo na mesma época em que nomes como Tim Hecker, Alva Noto, além de toda uma profusão de artistas resolveram propiciar novo acabamento e sonoridade a registros voltados para a música ambiente, Fennesz e seu clássico Endless Summer primam por manter um forte diálogo com o experimental, embora não seja isso sua maior força. Mais do que um mero conjunto de sons diluídos de forma complexa ou colagens musicais marcadas pelo excêntrico, cada composição proposta ao longo do trabalho condensa uma gama de possibilidades que se alteram em cada nova canção. Fennesz não apenas desconstruiu o verão, como deu a ele novo sentido.

Endless Summer (2001, Mego)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Tim Hacker, Alva Noto e Oneohtrix Point Never
Ouça: Endless Summer

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.