Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 09/11/2011

Wilco
Alt. Country/Indie/Alternative
http://wilcoworld.net/

Por: Cleber Facchi

 

Não há nada melhor do que momentos de crise para que um artista consiga alcançar seu ápice criativo. Entre exemplos que abarcam desde personagens históricos da literatura, cinema ou de quaisquer outros campos das artes, talvez o que melhor ocupe esse papel no setor musical seja o veterano Jeff Tweedy. Em idos de 2001, longe de sua antiga gravadora (a Reprise Records, um dos braços da Warner Bros.), rompendo com o amigo de longa data Jay Bennett e vivendo um verdadeiro inferno criativo, o músico de Illinois conseguiu não apenas apresentar o melhor registro de sua carreira, como proporcionar um dos registros mais fundamentais de toda a história da música contemporânea: o clássico irretocável Yankee Hotel Foxtrot.

Vindo de uma bem sucedida carreira musical através do projeto Uncle Tupelo, Tweddy já havia nos anos 90 garantido duas verdadeiras obras-primas do Alt. Country através de sua banda, o Wilco. Tanto A.M. de 1995 como Being There de 1996 serviram para posicionar o grupo de Chicago como um dos mais importantes representantes da nova geração de artistas que começavam a pipocar naquele momento. Entretanto, mesmo os elogios sinceros da crítica e o apoio de um fiel grupo de seguidores não conseguiram garantir boas vendagens ao grupo, que após o lançamento do também memorável Summerteeth em 1999 acabou enfrentando fortes críticas de sua gravadora.

Mesmo livres para produzirem o que quisessem em seu quarto álbum – as gravações ocorreram entre o outono de 2000 e começo de 2001 no loft-estúdio da banda – e contando com forte expectativa tanto da crítica quanto do público, a maré de sensações e acontecimentos ruins que tomariam conta da carreira do grupo estava apenas começando. Tweedy e Bennett começaram a se desentender cada vez mais, algo que posteriormente se encaminharia para a saída do segundo, integrante do Wilco desde 1995 e velho amigo do primeiro.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=cBhj73WtiZU?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=6z3hIYB8nec?rol=0]

Convidado para captar o processo de produção do álbum, o documentarista Sam Jones foi aos poucos registrando a tensa realização do trabalho – posteriormente encontrada no documentário I’m Trying to Break Your Heart -, capturando desde as incontáveis adversidades entre os dois ex-colegas de banda, até as inúmeras crises criativas de Tweedy, que enfrentou durante todo o processo de gravação do disco constantes bloqueios na produção das faixas. Por fim, já com o registro finalizado, a banda acabou não contando com o apoio da gravadora, que considerou o trabalho pouco comercial e muito abaixo dos padrões do grupo.

O álbum, entretanto, acabou agradando os executivos da Nonesuch Records – estranhamente outro braço da Warner Bros. -, que apresentou o registro ao público em abril do ano seguinte. Fortemente influenciado pelo espírito norte-americano pós-11 de setembro e costurado por pequenas doses de experimentos musicais, YHF foi rapidamente aceito tanto pelo público como pela crítica, que não tardou em apontar o registro como um dos melhores daquele ano. Levemente afastado das anteriores experiências musicais da banda e se embrenhando em uma tonalidade marcada pela tristeza, o álbum vai crescendo lentamente em sua execução, presenteando o ouvinte com uma sequência de faixas memoráveis.

Da acessibilidade melódica de Jesus, Etc., passando pela melancolia ruidosa de Ashes Of American Flags até o desfecho hermético de Reservations, tudo se movimenta de maneira única dentro do registro, com a banda alcançando um resultado musical impossível de ser igualado mesmo em seus lançamentos seguintes. O álbum não apenas confirmou o excelente desempenho do Wilco como uma das grandes bandas de seu tempo, como acabou proporcionando um dos maiores, se não o maior álbum da geração 2000. O novo século estava só começando e Yankee Hotel Foxtrot era apenas a melhor comprovação disso.

Yankee Hotel Foxtrot (2002, Nonesuch)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Uncle Tupelo, My Morning Jacket e Spoon
Ouça: o disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.