Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 11/11/2011

Hot Chip
British/Electronic/Electropop
http://hotchip.co.uk/

 

Por: Cleber Facchi

 

De maneira bastante comum registros calcados na exposição de sons eletrônicos e sintéticos acabam constantemente fragmentados em duas frentes musicais bem opostas. De um lado estão projetos que dialogam exclusivamente com o grande público, trabalhos que se concentram na produção de um som fácil, pegajoso, porém, pouco ou nada revolucionário e influente. Do outro lado estão álbuns que mesmo capazes de alcançar o grande público em suas múltiplas formas, acabam agradando diretamente um segmento mais específico de ouvintes, mobilizando uma música muitas vezes conceitual e em diversos casos centrada no uso de constantes experimentações.

No meio dessa linha bem delimitada reside ainda um terceiro e talvez mais raro grupo de artistas. Contribuintes musicais como o quinteto britânico Hot Chip, que para além de contabilizar uma verdadeira antologia de faixas dançantes e puramente comerciais, acabam também se aproximando da crítica e de um publico muito mais exigente. Melhor exemplo dessa dualidade que define a carreira da banda está em The Warning (2006, EMI/DFA Records), um registro que experimenta, brinca e se renova, mas que ainda assim consegue se apresentar de forma pop e despretensiosa durante toda sua execução.

Por mais que a banda londrina já tivesse delimitado todas suas experiências musicais com o lançamento de seu primeiro álbum – Coming on Strong, de 2004 – é com a chegada de sua sequência musical que o grupo mostra de fato a que veio. Menos suave e pacato que o também agradável debut, o disco de 11 faixas conseguiu proporcionar uma verdadeira quebra no cenário eletrônico que até o presente momento parecia se anunciar. Nada de referências retrógradas aos sons da década de 1980, tudo ao longo do registro se anuncia de maneira renovada, empolgante e até mesmo inédita em diversos momentos.

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Visivelmente influenciados pelo som proposto pelo LCD Soundsystem um ano antes com sua homônima estreia, o grupo encabeçado por Alexis Taylor e Joe Goddard faz borbulhar um verdadeiro caldeirão de sons sintéticos, dançantes, pop e pegajosos, transformando o álbum em uma sequência de grandes hits que vão para além dos tradicionais limites do electropop convencional. Do arrasa quarteirões Over And Over (eleita a melhor música de 2006 por diversos veículos especializados) aos sons diminutos e voltados à IDM da faixa título, cada canção proposta ao longo do trabalho se organiza de forma primorosa, envolvente e aidna assim acessível com todos os públicos.

Para além de um manancial de elementos sintéticos e reviravoltas instrumentais que reforçam a boa fase do Kraftwerk ou mesmo grandes figurões da eletrônica dos anos 90, grande parte do que transforma The Warning em um registro conceitual e distinto está em um flerte direto dos britânicos com a soul music. Seja a maneira como os vocais de Taylor são explorados ou mesmo a forma romanticamente suingada como as canções são desenvolvidas, todo o trabalho emana um marcante perfume de Black Music, transparecendo uma clara herança da obra de Prince ou mesmo outros expoentes menores do mesmo gênero.

Para além de todo o condensado de complexas referências que atravessam a soul music, flertam com IDM e se entregam aos clássicos da música eletrônica, muito do que caracteriza o álbum e garante força ao disco vem do bem explorado jogo de canções fáceis e pegajosas. Sete das 11 composições do álbum são hits em potencial, músicas que romperam os limites das pistas e disseminaram a música dos ingleses pelos quatro cantos do globo, transformando o quinteto britânico em um dos projetos mais elogiados e louvados dos últimos tempos. Se James Murphy foi o deus das pistas na última década, os britânicos do Hot Chip foram seus melhores aprendizes.

 

The Warning (2006, EMI/DFA Records)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Cut Copy, LCD Soundsystem e Junior Boys
Ouça: The Warning e Boy From School

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.