Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2011

The Strokes
Indie Rock/Alternative/Garage Rock
http://www.thestrokes.com/

Por: Cleber Facchi

 

Não há como contestar, o tiro que sepultou Kurt Cobain em cinco de abril de 1994 tirou não apenas a vida do último grande ícone do rock alternativo, como soterrou consigo toda a profusão de artistas que haviam apresentado ao mundo a beleza e a fluidez do rock daquele período. Por mais que alguns artistas como Radiohead e Blur tenham dado continuidade a uma série de bons trabalhos – o Brasil também vivia uma fase ótima -, o rock em seu melhor estado lentamente começou a deslanchar, dando lugar a uma profusão de artistas calcados pretensiosamente na música pop ou em uma versão óbvia e pouco relevante do hip-hop.

Com um cenário visivelmente marcado pela carência e uma indústria fonográfica que vivia seus últimos momentos de glória, não seria de se esperar que cedo ou tarde algum artista ocupasse de vez essa lacuna, algo que cinco nova-iorquinos trataram de assumir assim que os primeiros segundos do novo século tiveram início. Revivendo toda a experiência do rock de garagem que inundou Nova York no final dos anos 70 e amarrando tudo com uma sequência de guitarras eletronicamente estilizadas, os Strokes mostraram que embora o cenário musical estivesse infestado de lixo, havia sim algo de bom por trás de toda essa sujeira.

Por mais que o EP The Modern Age desse todas as pistas de que algo novo estava começando a brotar em solo norte-americano, somente com a chegada de Is This It em 30 de julho de 2001 que tanto o público quanto a crítica veriam de fato que algo havia se formado. Entre riffs de guitarra que exaltavam (ou copiavam) a boa fase do Television e letras que mesmo tomadas por uma fluência pós-adolescente passavam longe de um resultado óbvio ou descartável, o quinteto formado por Julian Casablancas, Nick Valensi, Albert Hammond Jr., Nikolai Fraiture e Fabrizio Moretti foi aos poucos delimitando um espaço musical apenas seu.

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Nada de sons embromados ou o romantismo clichê que impregnava estações de rádio, programas de TV ou os crescentes players de música, cada um dos 36:28 minutos do trabalho são explorados de maneira direta, urgente e nunca desnecessária. Cantando como se fosse aquele seu último disco, um quase raivoso Julian Casablancas deslancha uma sequência de 11 aceleradas composições, faixas que esbarram nas guitarras bêbadas, porém bem exploradas de atencioso Nick Valensi, tudo isso enquanto a bateria do brasileiro Moretti é aplicada dentro de uma precisão límpida e quase eletrônica.

Se de um lado do trabalho estão as guitarras sujas e a sonoridade crescente de The Modern Age, soando como uma verdadeira ode aos grupos nova-iorquinos pré-new wave, do outro lado está a urgência quase anfetaminada de Hard To Explain, com o grupo mostrando um tipo de medida até então inexistente naquele período, proporcionando um tipo de som que mesmo cru convidava o ouvinte à dança. Feito uma escarrada musical, o registro se extingue tão rapidamente quanto inicia, sendo praticamente impossível absorver toda a consistência do trabalho em uma única audição.

Por mais que o trabalho seja o grande responsável pela avalanche enfadonha de bandas redundantes e tomadas pelo plágio que viriam logo em seguida, o álbum é indubitavelmente um registro essencial, um tipo de disco que cedo ou tarde acabaria surgindo – seja pelas mãos dos Strokes ou através de outro iniciante grupo. Mesmo que o álbum não comporte a mesma tonalidade esquizofrênica de Kid-A ou o clima épico-soturno de Funeral , Is this It é (ainda hoje) o trabalho que mais encaminha ouvintes para dentro de um universo musical que ultrapasse os limites do óbvio, do convencional, do tosco e do pretensioso. Os Strokes acertaram em sua estreia e todos acabaram ganhando com isso.

Is This It (2001, RCA)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Arctic Monkeys, Julian Casablancas e Albert Hammond Jr.
Ouça: o disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.