Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 15/11/2011

OutKast
Hip-Hop/Rap/Funk
http://www.outkast.com/

Por: Cleber Facchi

 

Poucos são os artistas dignos de se orgulharem de uma discografia irretocável e capaz de ser aclamada com unanimidade tanto pela crítica como pelo público. Dentro desse seleto grupo – que inclui em sua maioria ícones do rock vindos de diferentes gerações – figura com destaque o trabalho desenvolvido pela dupla norte-americana composta por Big Boi e Andre 3000, ou como acabaram conhecidos em sua parceria, OutKast. Responsáveis por uma sequência de álbuns fundamentais para história do Hip-Hop, o duo esperou pela chegada dos anos 2000 para apresentar aquela que seria compreendida como sua obra máxima: o clássico imediato Stankonia.

Se ao longo de (quase) toda a década de 1990 o duo de rappers proporcionou através de seu dual encontro de versos e fragmentado contexto musical a força para seus registros, com a chegada de Aquemini em setembro de 1998 toda essa divisão pareceu integralmente rompida. Enquanto em épocas iniciais a dupla se consolidou através desse encontro de distintas origens e temáticas em seus álbuns, com a chegada do fatídico registro isso pareceu conscientemente resolvido, com os dois integrantes entrelaçando seus pensamentos e preparando o caminho para o que viria logo em sequência.

Do princípio ao fim de Stankonia o que vemos não é a produção de um registro fragmentado entre as preferências e experiências de sua dupla de idealizadores, mas sim o encontro marcado entre dois indivíduos que agora pensam, escrevem e parecem respirar dentro da mesma frequência musical. Não há mais a figura de Big Boi ou Andre 3000, tudo que encontramos ao longo das 24 composições que delimitam o álbum parece fluir do esforço de um único de uma mesma mente, aqui há espaço somente para um único “indivíduo”, o OutKast.

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Enquanto nos trabalhos anteriores era visível a formação de um registro que pendia tanto para as preferências ao Gangsta Rap de Big Boi como pelo jogo de versos bem humorados de 3000, aqui temos essas duas medidas posicionadas em uma única linha. Para unir esses dois elementos a dupla reforça algo que há tempos já vinha explorando (principalmente em seu trabalho anterior), mas que dentro deste álbum acaba recebendo amplo destaque: uma visível predisposição aos ritmos do funk e da soul music.

Fazendo uso destes elementos o duo acabou produzindo um registro inovador, um trabalho que se destaca tanto pela ambientação opaca de faixas como Gangsta Sh’t e Red Velvet (com seu ar de anos 90), como pelo ritmo descontraído e dançante de B.O.B. e Humble Mumble. Este tipo de preferência acabaria se intensificando ainda mais com a chegada do seguinte lançamento dos rappers, Speakerboxxx/The Love Below de 2003, álbum duplo que mais uma vez exploraria o rompimento de seus dois integrantes.

Embora a trinca de produtores Organized Noize (composta por Sleepy Brown, Rico Wade e Ray Murray) assuma com destaque a produção de algumas faixas ao longo do álbum – buscando repetir a boa parceria do disco anterior -, é o trio formado por Andre 3000, Antwan Patton e David Sheats (o famigerado Earthtone III) que acaba recebendo destaque e assumindo a maior parte do álbum. Vasto – tanto em conteúdo como em composições – Stankonia é de longe uma das obras mais icônicas da música contemporânea (não apenas do hip-hop), um compendio musical que explora e cria novas experiências a todo segundo, um trabalho que reconfigura o óbvio, distorce suas estruturas e cria algo simplesmente inédito a seus espectadores.

Stankonia (2000, LaFace/Arista)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Big Boi, Nas e Jay-Z
Ouça: B.O.B.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.