Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 09/02/2011

Sabotage
Brazilian/Hip-Hop/Rap
1989 – 2003

 

Antes de Marcelo D2 misturar samba com hip-hop em A Procura da Batida Perfeita (2003), causando a explosão do Rhythm and Poetry por todo o país (entenda como alcançando a mídia e dominando a calasse média-alta), rap nacional era algo dos subúrbios e que vinha entoado pelas vozes dos Racionais MC’s, Black Alien, MV Bill e Thaíde. Fazendo escola com todos esses mestres da rima saiu em meados do ano 2000 Rap É Compromisso, a estreia de Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage.

Embora esse fosse o primeiro trabalho de estúdio do rapper, sua atuação dentro do cenário nacional já rolava desde findos dos anos 80, quando participou de diversas batalhas de MCs. Foi justamente em uma dessa batalhas que Mano Brown e Ice Blue, ambos membros dos Racionais MC’s se encantaram com a habilidade do jovem garoto em desferir rimas rápidas e coesas. Dali pra frente os horizontes se abriram para o rapaz que nasceu e cresceu no bairro do Brooklin, onde mais tarde também seria morto.

Desde muito novo acabou envolvido com o tráfico de drogas, motivo que o levou a ser internado durante a adolescência na FEBEM (Fundação Estadual Para o Bem Estar do Menor) e em 1995 preso por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Queriam ou não, tais fatos é o que movimentam os versos de seu disco de estreia. Apesar de soar como um profeta do apocalipse ao versar na abertura do álbum “Novo milênio, pode acreditar, só vai sobrevier escolhido, muita arma, muita droga, pouco dinheiro e pouco perdão”, o rapper evidenciava a realidade já conhecida e sentida por ele, nada que já não fosse previsível.

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Ao longo de toda a carreira Sabotage sempre contribuiu como o trabalho de diversos artistas, como Sepultura, Negra Li, Rappin Hood, além dos próprios padrinhos do Racionais MC’s. A força dessas participações acaba se revelando também em seu disco solo, o qual conta com a presença de Li, Hood, Black Alien e também do RZO (Rapaziada da Zona Oeste), grupo de hip-hop do qual o próprio rapper fazia parte. Destaque para a faixa Cocaína, com a contribuição de Sombra e Bastardo, integrantes do coletivo SNJ (Somos nós a Justiça).

Ao contrário do hip-hop gringo, que trazia uma levada muito mais dançante naquele momento e que tratava da exaltação da conquista, dos luxos e dos abusos de seus idealizadores, Sabotage não deixa em nenhum momento que seu foco no “compromisso” venha a se extinguir. Os versos politizados tratam da cultura do povo das favelas, a repressão, o tráfico e os vícios, que quando organizados dentro do álbum revelam o cenário e a forma de vida do povo suburbano. A estreia do rapper garantia a ele um espaço mais do que merecido dentro do rap nacional, apontando que dali viriam bons frutos no futuro.

Contudo, na manhã de 24 de janeiro de 2003, Sabotage foi encontrado baleado ao lado do seu carro no bairro do Brooklin, vitima fatal de quatro tiros que calaram sua voz para sempre. Extinguiam-se ali os versos ricos de Mauro Mateus dos Santos, que estranhamente condiziam com o que ele já pontuava na faixa Um Bom Lugar: “No Brooklin to sempre ali/Pois vou seguir, com Deus enfim”. Entretanto, o legado do rapper permanece em seus versos, cada dia mais atuais, como fica claro nesse disco.

 

Rap É Compromisso (2000)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Emicida, Racionais MC’s, RZO
Ouça: Um Bom Lugar

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.